domingo, 29 de março de 2009

Sonhar e... Sorrir? Vol. 5

Eu matei uma assassina - Parte 3
"Quatro e trinta e oito da manhâ. Que diabos! Por que eu fui acordar antes do despertador? Eu não devo ter dormido como deveria. É a única explicação." Saí da cama direto para ver o resto da casa. Dois pratos sujinhos em cima da mesa, dois cálices de vinho: um cheio e outro pela metade. Quem visse isso poderia muito bem pensar numa festinha a dois. Apesar de eu não ter bebido nada, tive alguma dificuldade para lembrar que foi a Isabela quem esteve aqui ontem à noite. E disse que ia me matar. Aquela menina doida...
Como ainda era muito cedo e eu só precisava estar no colégio às sete horas, comecei a arrumar a casa. Levei os cálices e os pratos para a cozinha, pus tudo em cima da bancada e... Que droga... Isso é um vinho caro, ela abriu, não tomou o cálice todo e eu não bebo. Que faço com isso? Espero que ninguém descubra que eu joguei tudo no ralo da pia. Lavei a louça sem a menor pressa para depois colocar as coisas todas no lugar pelo resto da casa.
Terminei de lavar a louça do dia anterior e fui para a sala arrumar os CD's, guardar o violão e procurar mais alguma coisa para arrumar pela casa. Como não tinha mais nada - graças a Deus! - , danei-me a pensar no que faria do "resto" do dia de hoje até domingo. Ah, domingo... Aquele verme maldito ainda vai me pagar pelo que fez com o Bruno e com a Isabela. Bruno não podia ser morto. E Isabela nada tem a ver com nada no meio daquele monte de ratos nojentos. É uma modelo, uma menininha. Não pode se meter a assassina de aluguel. Não pode. Eu não posso deixar.
Sentei-me no sofá, peguei de novo o violão e comecei a improvissar qualquer coisa. "Que maravilha! Meu ingresso pro forró na semana que vem está garantido com open bar! Hehehe... Pra que open bar? Eu não bebo! Pelo menos água, suco e refrigerante - fora a entrada - são de graça na quinta. E dança! Vai ser ótimo! A menos, é claro, que aquela lourinha maluca apareça de novo e, desta vez, realmente decidida a me matar. Mas eu duvido muito. Acho que não aparece mais. Ou será que aparece?"
Fiquei pensando nessas coisas todas durante quase uma hora e meia. Ao ver que já passava das seis da manhã, resolvi tomar café da manhã, juntar as minhas coisas e ir para o colégio. As sextas eram sempre divertidas. Os alunos de saco cheio, loucos pelo fim de semana... Vai ser engraçado. "Eita! Tiago não vai me deixar em paz! Que é que eu digo praquele sujeito? Nhargh! Que susto! Quem diabos liga pra outra pessoa às seis e quinze da manhã?"
- Alô? - nada. Ninguém dizia nada do outro lado da linha. - Alô? Alô!
Desliguei o telefone, tomei um copo de suco, peguei um pacote de biscoito recheado, vesti a camiseta do colégio, calcei um par de tênis, peguei a mochila e saí. Desci os três andares de escada até o térreo - dessa vez vou com o verdão - , peguei o meu carro e saí rápido para o colégio. Cheguei em dez minutos - confesso que fui muito rápido de casa para o colégio. Geralmente levo o dobro do tempo. Estacionei na primeira vaga que me apareceu, saí do
carro e fui para a sala dos professores esperar o sinal para o começo da primeira aula. Daí mais dez minutos eu ouvi uma voz vindo forte pelo corredor.
- Cadê ele? Cadê o André? Aquele carrão verde é dele! Cadê?
- Estou aqui, Tiago.
Tiago pôs a cabeça para dentro da sala dos professores e...
- Safadão! Seu sem vergonha! - ele disse com um sorriso do tamanho do mundo. - Pegou a modelo, né, garanhão?
- Que é isso, rapaz! Até parece que eu sou esse garanhão que vo...
- É, seu safado! Esqueceu os amigos na boate e ficou a noite toda com a modelo, não é? Conta aí! Como foi tudo? Eu quero detalhes!
- Acho que você não quer ouvir - eu disse com um sorriso de quem tem a melhor das piadas na manga.
- Hmmm... Quer ficar com a históra só pra você, né? Sei como é isso... Sei como é isso... - ele respondeu, zombeteiro.
- Não. É porque não aconteceu nada, de fato.
- Como assim?! - o espanto dele foi tão grande que a Rosa, que passava pela sala, até parou para escutar a conversa.
- Bom... Um beijo. Dois.
- Ah, André!
- Que foi, meninos? - a Rosa entrou na sala já perguntando.
- Ô, Rosinha, é que o Tiago não se conforma com o fato de eu não ter ido ontem ao forró com ele mais os meninos.
- E por que você não foi, Dezito?
- É que...
- É que ele estava com uma modelo em casa ontem à noite e não quis dividir com a gente.
Rosinha olhou para o Tiago com uma cara de não sei se "menina sem vergonha" ou
"mamãe dando bronca no filhinho".
- E o que é que tem, Titica? O Dezito não é praquelas suas pé de valsa não. - Virou-se para mim. - Faz bem passar um tempo com a moça, Dezito. Deve ser muito boa gente.
- Obrigado, Rosinha. - eu agradeci, embora pouco do que ela falara me fizesse sentido, e ela saiu.
- Depois da aula você me conta tudo, heim, rapaz? Não é possível que ela tenha ido te procurar, não tenha te matado e o saldo tenha ficado em dois beijos.
- Eu conto. Mas você não vai gostar de saber.
Passamos a manhã inteira dando aula, das sete horas até meio dia e meia. Depois que a aula terminou, nós fomos para a sala dos professores e começamos a conversar. Achei estranho ele não ir direto ao assunto de ontem à noite.
- E aí? Como foi a conversa com o Lacerda ontem depois da aula?
- Foi tranquilo. Boas notícias, eu diria.
- O que é mesmo que ele queria? Ele fez um mistério tão grande em cima disso.
- É verdade. Mas era por uma boa causa. A conversa tinha duas pautas, na verdade.
- E quais eram? Vai virar coordenador da equipe de português, por acaso?
- Vou. - eu disse, sorrindo.
- Aaaahhhh, rapaz!! Esse é o meu garoto! E a segunda pauta?
- Vou assumir as aulas de inglês também.
- Eita! Agora é que você vai rachar de trabalhar.
- E de ganhar dinheiro - eu disse quase gargalhando.
- É verdade. Mas agora para de me enrolar. Conta direito como foi a história de ontem à noite com aquela loirona.
- Depois que te deixei em casa, batemos um pega cidade a fora. Consegui despistá-la, dei uma enrolada por aí e, quando cheguei em casa ela estava lá.
- Como assim? Já deu a chave da sua casa pra modelo, rapaz? Já vai casar?
- Não, seu doido! Ela conseguiu a chave do meu apartamento. E de algum jeito que eu não consigo imaginar qual.
- Sei... Que mais?
- Eu imaginei que houve várias maneiras possíveis pra ela me apagar ontem à
noite mesmo. Conversamos um bom tempo, descobri que ela é nova nessa coisa de matadora de aluguel e tal...
- E...?
E eu contei todo o resto da história ao Tiago. Ele ficou surpreso com aquilo
tudo - quem não ficaria? - e ficamos conversando na sala dos professores
durante um longo tempo. Esquecemo-nos até de almoçar. Lá pelas duas e meia da
tarde nós resolvemos almoçar juntos e conversamos mais um bom bocado. Parece
brincadeira, mas fui sair do colégio já depois das quatro horas da tarde,
depois de muita conversa. Olhei para o relógio e fiquei espantado com o tempo
que passamos conversando.
- Eu vou andando, Tiago. Quer carona pra casa de novo?
- Eu não sei... Será que é seguro?
- Uai... Por que a pergunta?
- A loirona pode estar à sua espera lá fora como ontem e anteontem.
- Ah! Relaxa... Se ela estiver, ela vai atrás de mim e não de você. - espiei, da porta de entrada do colégio, o outro lado da grade. Parecia que ela não estava lá. Pelo menos não no mesmo lugar onde estava antes de começar a me seguir nos dois dias anteriores.
- Acho que não está lá.
- Então eu aceito a carona.
Deixei o Tiago em casa e fui embora vigiando os retrovisores à procura do conversível vermelho ou de outro carro que me estivesse seguindo desde a porta do colégio. Nada. Acho que eu estava seguro, finalmente. Estacionei o carro, subi pelo elevador, entrei no meu apartamento e caí na cama. Dormi igual a uma pedra até as sete horas da noite. Quando acordei, meio desorientado, vi que ainda era cedo naquela noite quente. Levantei, tomei um banho, troquei de roupa peguei o meu violão e desci. Adorava tocar violão embaixo do bloco
vizinho. Ficava de frente pra um monte de ruas movimentadas e aquela visão de um monte de carros passando à noite me era agradável para tocar.
Sentei embaixo do bloco, tirei o violão de dentro da bolsa e comecei a tocar. Tocava e cantava como se fosse pra uma roda de amigos. Tocava as canções de que mais gostava e das que os meus amigos mais gostavam. Toquei durante quase uma hora e, de repente, ela apareceu. Estava linda, como sempre, mas linda como nunca. Uma calça jeans escura com uma blusa branca e, por cima da blusa, a jaqueta de couro marrom. Não sei se foi porque ela fizera alguma coisa diferente no cabelo ou se era porque simplesmente estava com a cara fechada.
Ela já apareceu com uma pistola na mão, parou perto de mim e apontou a arma já com o dedo no gatilho. Aquilo não me assustava mais e, ainda que ela fosse mesmo me matar, eu estava tão tranquilo que nem eu mesmo me reconheci. Não parei de tocar por causa daquela cena. Aliás, não parei por nada.
- Olá, mocinha.
- Não começa.
- Não posso mais cumprimentar? - eu só não cantava mais, mas continuava tocando e prestando atenção nas cordas do violão, e não nela. Talvez isso a irritasse mais.
- Não sei se faz sentido cumprimentar quando você não vai poder se despedir.
- Adeus.
- Não me provoque!
- Ou o quê?! - parei de tocar subitamente e olhei para ela com a cara ainda mais fechada que a dela. Fiz uma coisa de que muita gente não gosta: olhei para ela por cima da lente dos meus óculos. - Ou o quê?! Vai atirar em mim? Ou vai dar um chilique?
- Eu disse pra não me provocar. - ela armou o cão da pistola.
- Ou o quê? Você vai me matar? Eu não acredito. Está me procurando há três dias pra fazer esse serviço ridículo de fácil e não o fez até agora. Será que ainda fará? Vai puxar o gatilho? Não o puxou ainda por quê?

Ela me olhava fixamente. Os olhos queimando não sei se de raiva ou de
desprezo.
- Você não escapa hoje.
- Anteontem você disse a mesma coisa pra ontem e ontem você disse a mesma coisa. - coloquei o violão em cima da bolsa. - No entanto, estou aqui. Escapando toda vez.
- Cala a boca! - ela deu um passo para trás e apontou a pistola para a minha testa. Continuou olhando fixamente para mim. Seus olhos e mãos estavam trêmulos.
- Atira. - ela não reagiu. Fiquei em pé, cheguei mais perto dela e delicadamente peguei suas mãos e encostei o cano da pistola no meio da minha testa. - Atira, Isabela.
Ela continuava olhando para mim sem se mover. Aquilo irritou-me profundamente. Gritei:
- Atira, vadia inútil!
- ...
- Está com medo de quê? Você está armada e a arma está na minha cabeça! Puxa a porra do gatilho e acaba de uma vez com isso!
Ela começou a chorar.
- Atira, sua desgraçada!
- Eu não consigo, André! Eu não consigo! - ela chorava descontroladamente. Não conseguia mais segurar a pistola apontada para mim. Abracei-a, encostei-me numa parede, encostei a cabeça dela no meu peito e dei-lhe um beijo na cabeça. Peguei a pistola de sua mão e pus dentro da bolsa do violão.
- Não chora, menina.
- Por que faz isso, Dé? - ela disse entre soluços.
- Desculpa. Não se ofenda assim.
- Não me ofendo com o que você disse. Nem um pouco. Quero saber por que você faz o que faz comigo.
- Eu já te disse ontem.
- Ai, Dé...
- Eu já disse que você tem o coração mole. Esse serviço não é pra você. Você devia ser modelo.
- Ele vai me matar, Dé. Hoje era o último dia. Ele vai me matar.
- Ele sabe onde eu moro?
- Não.
- Então vem comigo.
- Pra onde?
- Pro meu apartamento.
- Nossa... Isso soa meio clichê, não acha? - ela disse enxugando as últimas lágrimas e riu.
- Você não quer que ele a encontre e eu também não. Talvez ficar lá em casa um pouco seja uma boa opção, não acha?
- É verdade.
- Então vamos.
Pus o violão na bolsa, peguei minhas coisas e fui segurando a mão da Isabela.

3 comentários:

Aileen Daw disse...

É... já tô vendo... os dois no apartamento...
Mas uai... como ela conseguiu o endereço?
Será que o ser q passou o endereço não vai atrás dela??
E o Dé não ia matar o cara?
hihi
=)
Tô gostando!!!!!!

Luiza Callafange disse...

Eita loira frouxa hein?! Será que o cara vai achá-la? Ou ela etará segura nos braços desse Dé?

Sarah de Souza disse...

Nossa...eu viajo legal,mas vc me superou!!
Estou amando esse blog!!