sexta-feira, 13 de março de 2009

Sonhar e... Sorrir? Vol. 3

Eu matei uma assassina - Parte 1
- E aí, André, como foram as aulas hoje?
- Normaizinhas. Parece que a molecada tava com pulga na cueca hoje de manhã, mas foi divertido.
- É sempre divertido pra você, né? Tudo é festa mesmo?
- Ah! Em sala de aula eu me divirto com tudo. Até com os bagunceiros.
- Só você pra querer dar aula pra terceiro ano do ensino médio.
- Olha só! E você faz o quê?
Isso aconteceu já bem depois do meio dia. Já passava, aliás, das quatro da tarde de um dia em que trabalhei a manhã inteira no colégio, almocei por lá e houve conselho de classe à tarde. Pela minha cabeça não passava mais que ir para casa, pegar o outro carro e ir ao supermercado fazer umas compras. Uma bela tarde de quarta com um sol dourado lá fora.
- André, vamos a uma boate mais tarde? Vai rolar um forró bacana hoje à noite.
- Ô, Tiago, hoje não vou. Desculpa.
- Ora... Vamos, rapaz! Você é solteiro! Vinte e cinco anos! Cheio de energia! Vai se divertir.
- Cara, eu estou meio cansado hoje. Vou pra casa trocar de carro, fazer compras e voltar pra casa pra descansar.
- Que é isso, homem! Fazer compras e descansar? Que diabo de solteirão é você?
- Ah! Responde essa, vai! Gosto tanto de ouvir!
- Vinte e cinco anos, professor de sucessíssimo, anda de carro esporte... e está dispensando um forró? Logo você dispensando forró?
- É... Mas se rolar outro amanhã, eu vou. Prometo.
- Vê lá, heim? Até amanhã!
- Até amanhã, Tiago.
Bem como o Tiago disse: entrei no meu carrinho esporte, dei a partida, manobrei pelo estacionamento do colégio - que estava vazio para uma quarta à tarde e saí sem pressa. Depois de um tempo, percebi que estava sendo seguido. Há quanto tempo esse - outro - esportivo está me seguindo? Não deve ser nada.
Parei num semáforo e percebi que não só era um esportivo como era um conversível. E vermelho. Com uma bela loura ao volante. E só ela dentro do carro. "Deixa de ser besta, André. Pessoas não seguem outras pessoas no trânsito por aí. Não numa quarta à tarde." O sinal abriu, virei à direita e segui. E lá vem o conversível vermelho. Será que o meu cupê amarelo chama tanta atenção assim? Convenhamos que não é muito mais gritante que um conversível vermelho.
Depois de mais uns cinco minutos de volante, esqueci-me de que estava sendo seguido. Entrei na garagem do prédio, estacionei, saí do carro, subi para o pavimento térreo para pegar o outro carro e ir fazer compras e... Hã? Que faz a loura do conversível vermelho - com ele - na frente do meu carro? Está bloqueando a minha saída. Antes mesmo de abrir o carro:
- Posso ajudar em alguma coisa, moça?
Ela tirou uma pistola de dentro da jaqueta de couro e apontou para mim.
- Acho que não.
- Ah! Entendi. Você veio me matar, não é? Deixe para mais tarde um pouco. Eu preciso fazer compras.
- Não vai precisar delas - ela disse com um tom sério e uma cara mais ainda.
- Ah, eu vou. Eu sou solteiro, tenho vinte e cinco anos e me recuso a morrer com um tiro sem ter comido nada antes - destravei o meu carro e fui entrando. - Entra aí. Vamos comigo. Mais tarde você me mata.
A loura fez uma cara de quem achou tudo aquilo muito estranho - e qualquer um teria achado. Estacionou o carro ao lado do meu, entrou e saímos.
- Por que você quer me matar?
- Porque você sabe demais.
- Ah, claro! Eu sou professor, sabe? Eu preciso saber o que eu sei pra dar aula.
- Não, André. Não é isso.
- Então sabe o meu nome? Não me surpreende. Sabe onde trabalho, onde moro, que tenho dois carros... Que mais você sabe?
- Que você conhece a GREVE.
- Ahn... A GREVE. Fala do grupo de ratos que faz tráfico ilegal de armas cuja sede é aqui na minha quadra e, teoricamente, ninguém sabe a respeito?
- Exatamente.
- E por que esse nomezinho ridículo? Não tinha um piorzinho um bocado para um grupo de traficantes de armas?
- Como?! - ela me olhou com um ar de não sei se susto ou reprovação.
- É. Que nome ridículo!
- Bom... - ela se ajeitou no banco do passageiro. Se você sabe o que é a GREVE, sabe quem me mandou, suponho.
- Sei. E se você sabe quem sou, onde trabalho, onde moro e que tenho dois carros, também sabe que vou matar quem te mandou, certo?
- Ahahahaha! - ela riu descontroladamente.
- Não ria. Ele não passa de domingo.
- Como você pretende matá-lo?
- Vai ser fácil. Como ele está instalado num apartamento num prédio na minha quadra como um morador comum, não há segurança no prédio que me segure. Ele não instalaria nenhum sistema de segurança superavançado porque isso chamaria a atenção de outros traficantes tão grandes e nojentos quanto ele. Sem falar que isso atrairia a atenção da polícia, uma vez que os porteiros do prédio saberiam que no apartamento tal há um sistema de segurança assim assado.
- É? E como pretende entrar?
- É segredo. Mas ele não vai ver o nascer o sol da próxima segunda. Domingo à noite ele vai dormir e não vai acordar mais.
- Gostei de você.
Parei no supermercado e ela ficou dentro do carro enquanto eu fui rapidamente fazer as compras de que precisava. Propositadamente deixei-a dentro do carro para que fuçasse coisas como o meu portamalas - e não achasse mais que livros e cadernos novos e velhos - e meu portaluvas - e achasse um portadiscos e, quem diria, uma pistola 9mm automática. Quando cheguei de novo ao carro, surpreendi-a com minha pistola na mão.
- Ei! Esse brinquedo é meu. Ponha no lugar já - falei sério e incontestavelmente imperativo.
- Tá bom, tá bom, pronto - ela pôs de volta a pistola no portaluvas num gesto rápido e um pouco atrapalhado.
- Eu tenho ciúme desse meu brinquedo. Ganhei de presente. - eu disse depois de colocar as compras no portamalas e entrar no carro de novo.
- O que faz um professor de segundo grau com uma Heckler & Koch no portaluvas?
- Quase a mesma coisa que uma modelo com uma 9mm no bolso da jaqueta.
- Ei! Como sabe?
- Ah... Você não me engana; loura, olhos azuis, um rosto lindo, quase 1,80m de altura, magrinha... Você é modelo nas horas vagas ou já foi, num passado não muito distante.
- É verdade... Já fui modelo, sim.
- Eu sabia.
- Que mais você sabe a meu respeito?
- Nada, eu acho. Nem mesmo o seu nome.
- Não seja por isso. Isabela Müller.
- E você? O que sabe a meu respeito, Bela?
- Eu...
- Não se importa que eu a chame de Bela, né?
- N... Não.
- Diga.
- Sei que você dá aulas de português e de inglês naquele colégio, que mora aqui, anda num cupê esportivo amarelo e tem um sedã verde escuro "de reserva". Mora sozinho num apartamento pequeno de três quartos por que quer, e não por falta de dinheiro.
- Que mais?
- Que mais eu deveria saber?
- Quem te mandou deveria tê-la informado de que eu sou um sujeito um pouco perigoso até quando estou desarmado.
- Como assim?
- Eu sou karateca e kickboxer.
- Impossível. Eu teria sabido, se essas informações fossem relevantes.
- Não, não teria sabido. As informações não são relevantes porque não sou faixa preta. Mas elas deveriam ser porque não sou faixa preta por não ter querido fazer os últimos exames. Eu teria de tirar porte de armas para isso.
- Bonito você, heim? Quer dizer que tem uma Heckler & Koch no portaluvas e não tem porte de armas?
- Eu não disse que não tenho. Disse que, pra pegar a faixa preta, teria de tirar. Isso poderia me tornar conhecido para uma ruma de traficantes de armas nojentos. Ah! Para a GREVE.
- Fala deles com tanto desprezo quanto falaria de uma barata.
- Mas eles são desprezíveis. Muito desprezíveis. E têm um nome ridículo. Aliás, dá pena saber que você trabalha pra eles, sabia? Pelo amor de Deus!
- Quê?!
- Uma assassina de aluguel tão competente deveria escolher melhor para quem trabalhar. Ou vai me dizer que aceitou o serviço porque eles pagam bem.
- Ehr... Eu...
- Imaginei.
Isabela falou mais coisas a seu próprio respeito no caminho de volta para a minha casa. Falou tanto que não deu tempo de falar tudo só no caminho. Ficamos dentro do meu carro, no estacionamento do prédio, por mais de hora, enquanto ela dizia coisas como o quanto teria gostado de seguir a carreira de modelo, por exemplo. Quando chegou a esse assunto, começou a chorar, falou mais algumas coisas, pediu desculpa pela cena e...
- Vai pra casa, Bela. Hoje não vai ser um bom dia pra você matar ninguém. Não conheço um só bom assassino de aluguel de sangue quente.
- Mas...
- Tenho certeza de que o verme não se zanga se você demorar um diazinho a mais do que o esperado.
- É que...
- Deixe disso. Vai acabar tendo um ataque de nervos, se me matar hoje. Volta amanhã. Já sabe onde é a minha casa, onde trabalho, que carros tenho... Vai ser fácil. Volta pra casa, descansa e amanhã você me mata.
- Obrigada, Dé.
- De n...
- Não se importa que eu o chame pelo apelido, né?
- Não - corei.
- Então até amanhã.
Saímos de dentro do meu carro. Enquanto eu abria e descarregava o meu portamalas ela entrou no conversível vermelho e arriou a capota. Fechei o portamalas e ela disse:
- Não pense que amanhã será tão fácil pra você quanto foi hoje.
- Não pense que amanhã será tão difícil pra você quanto foi hoje - eu disse com um sorriso malicioso no rosto.
- O que foi tão difícil?
- Descubra amanhã. Você precisa descansar um pouco e eu também.
- Eu te pego, professorzinho.
- Estou esperando. Beijo e até amanhã.
- Até amanhã.

4 comentários:

disse...

uuuuuuuui

tensão no ar!
eu acho que rolou um clima!
falei

=D
aoishoaishoiashoaish

=*

botaoresto!

Unknown disse...

é
esquisito.

rs.
achei ela meio frouxa, hein, dé. será q é amor?
rs

Aileen Daw disse...

Ahhh, eu acho q se ela quisesse ela tinha atirado na hora q ele saiu do prédio!! Haaaam
Hihi!
Quero ver q q vai dar!!!

. disse...

Hum, este André é um cara controverso. Simples e emotivo, mas torna-se perito e calculista como James Bond, quando necessário...

Suspense