segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sonhar e sorrir Vol. 2

- Aiai, mãe do céu... Essa minha barriga deste tamanhão não está dando lá muito certo.
- Que é que foi, rapaz?
- Olha pra isso! Já tem quase nove meses! Disse o médico que eu devo entrar em trabalho de parto logo, logo.
- O quê? Isso não é excesso de comida e falta de exercício?
- Olha... Não dá pra ser. Tudo bem que eu como bastante, mas não é possível que a academia e o karate não dêem conta de sumir com isso. Além do mais, eu não estou todo gordinho. É só a minha barriga.
- E como você explica isso?
- Ora, pistolas! Eu estou grávido! Quase nove meses e a minha barriga continua crescendo? Vai dizer que não aprendeu isso depois de dois filhos?
- Sim... Mas você não é cavalo marinho pra ser macho e ter os filhos.
- Pois é... Mas, se você encostar aqui na minha barriga, vai sentir a neném chutar.
- A?
- É. É uma menina.
- Como você sabe?
- Já ouviu falar em ecografia, mana?
- Como assim, seu doio?
- Aiai! Aiaiaiai, mana! Vamos comigo pro hospital que eu acho que é já, já.
Meia-hora depois, no hospital...
- Mas como isso é possível, meu filho?
- Doutor... Não me pergunte. Eu sei que uns nove meses atrás rolou alguma coisa entre mim e a minha esposa e agora eu estou com essa barriga desse tamanho, um bebê dentro e sem a menor idéia de como vou fazer pra colocá-la pra fora.
- Mas, meu filho... Você é um homem! Os homens não...
- Não, doutor, eles não têm filhos. Normalmente, não. Mas você quer me encaminhar pra outra ecografia ou ultrassonografia ou sei lá o quê pra ver com os seus próprios olhos?
- Você está brincando?
Ele tira um disco do bolso da bermuda laranja.
- Aqui. O DVD com a última ecografia, mais ou menos um mês atrás.
- Não acredito nisso...
- Aaaaaiaiai, doutor! Vamo'embora pra sala de parto logo que vai ser agora.
Na sala de parto, o rapaz já deitado, o médico coloca as luvas de borracha, a máscara...
- Vamos, meu filho! Empurre essa criança!
- Doutor... Eu sequer tenho dilatação... Como o senhor espera que eu empurre?
- Hahahahahahahahaha!!!!!
- Hahahahahahahahahah!!!!
Uma cesariana e um ano e meio depois.
- Olha pra ela, mana, que graça!
- Loirinha que nem a avó, a cara do pai e os cachinhos da mãe, não é?
- É, sim. Só não entendi direito de onde saíram esses olhos verdes - ele diz sorrindo.
- Devem ser da avó também. Ela era loirinha e tinha os olhos claros quando era bebê.
- Eu sei que a minha filhinha é uma graça - olha para a filha no colo - , não é, Lelê?
- Letícia vai ficar uma mocinha linda quando crescer. Quer dizer... Se puxar à mãe...
- Não perde uma, né, mana?
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Agora... É muito engraçado como a gente sonha, não é verdade? Só num filme ou num sonho pra um homem engravidar. Eu mesmo fiquei sem acreditar quando vi aquela barrigona ao olhar pra baixo. Mas a sensação de segurar a loirinha de cabelos cacheados nos braços foi única.