sábado, 27 de agosto de 2011

Para os mudanceiros

Mudanças. Não sei por que, mas tem gente que adora mudanças. Tira um móvel do lugar e coloca em outro, troca o relógio de braço compra um guardarroupa novo, muda corte de cabelo e tudo mais. E tem gente que muda quase tudo na vida do mesmo jeito que muda de ideia. E, às vezes, acontece assim com mudanças mais profundas. Mas o que poucos percebem é que, no fundo, muitas vezes as coisas mudam e continuam as mesmas.


Dos sete até os catorze anos de idade, você é uma criança que tem de vestir um uniforme - muitas vezes feio - e ir pra escola. Você passa sua manhã ou sua tarde numa sala de aula e sua tarde ou sua manhã fazendo o dever de casa em casa. às vezes rola aquele curso de inglês ou aquela aula de natação, mas é uma rotina bem certinha. Nos fins de semana, você vai com a sua família pra casa de um tio e passa a tarde de domingo inteirinha lá e, nas férias, você pode dormir até mais tarde e ficar mais tempo embaixo do bloco com os seus amigos.


Dos quinze aos dezessete anos tudo muda. O seu uniforme não é mais tão feio - em parte porque agora você pode usar calça jeans e não é mais obrigado a usar tênis - , você muda de pátio no colégio e tem matérias diferentes pra estudar. O que é melhor: você não é mais criança; é um adolescente. E agora o seu rosto tem espinhas, você começa a notar que você - rapaz - está ficando mais alto e - moça - seus quadris e seios de mulher já estão definidos. O que pouca gente repara é que você continua passando um turno do seu dia na escola, outro estudando em casa, a tarde de domingo na casa do tio e as férias embaixo do bloco. Tá, às vezes rola uma boate, um show ou coisa assim - porque, afinal de contas, você não é mais criança - , mas eles só enraram no lugar do video game e do cinema.


E aí você entra na faculdade. Seu pai já não te leva pra mesma escola - e, muitas vezes, você mesmo é quem dirige pra faculdade - , você não usa mais um uniforme, pode não saber se vai passar um ou dois turnos do seu dia no novo local de aprendizado e praticamente todas as amizades mudam. Claro que você conserva os velhos amigos da escola, mas um queria fazer Direito, o outro queria Medicina e o mais doido queria Engenharia Mecatrônica. É tudo absolutamente novo! Incrível! O que é mais incrível ainda é que você continua passando uma parte do seu dia numa sala de aula, outra parte estudando em casa e tudo mais. Tudo novo mesmo?


Depois de quatro ou cinco anos - na maioria das vezes - , você se forma. Veste uma roupa engraçada, sobe num tablado, recebe um diploma e um abraço de um professor que você pode nunca ter visto e pronto. Vamos para o mercado de trabalho. E aí você vai para um cursinho estudar pra um concurso público ou pra entrar na entidade de classe da sua profissão. É tudo diferente: você não tem mais de tirar boas notas pra passar de ano, não tem deveres de casa e, definitivamente, vai estudar só as matérias lhe forem convenientes. Mas vai continuar passando uma parte do seu dia numa sala de aula e outra parte estudando em casa.


E essa fase, fatalmente, acaba. Você passa num bom concurso público ou tira o seu CRAlgo, é nomeado ou contratado e vira um cidadão respeitável, com direitos, obrigações e um contracheque. Vai para um escritório trabalhar de seis a oito horas por dia e voltar pra casa, porque no outro dia tem de fazer tudo de novo. Ah! Você não está mais numa sala de aula, é verdade. Mas está num escritório, consultório, gabinete ou coisa parecida. E passa parte do seu dia lá, fazendo o que tem de fazer e, possivelmente, vai passar uma parte do dia em casa fazendo coisas do trabalho.


Mudou alguma coisa?