sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sonhar e... Sorrir? Vol. 6

Eu matei uma assassina - Parte 4
Destravei a porta do meu apartamento, abri-a, entrei e Isabela entrou logo depois de mim. Fechei a porta, travei-a e...
- Deixa eu lavar esse rosto. Deve estar uma beleza com a choradeira - disse ela.
- Pode ir. A essa altura, eu acho que não preciso mais mostrar onde fica o banheiro - respondi quase rindo.
Deixei o violão em cima do sofá da sala e fui para a cozinha. Achei que ela fosse querer comer alguma coisa. É engraçado como chorar dá fome. Pelo menos comigo é assim. Coloquei um bocado de água para esquentar no fogão, peguei um pacote de macarrão, uns tomates, orégano, manjericão e comecei a minha brincadeira na cozinha. Nunca imaginei que cozinhar pudesse ser divertido, até quando comecei a aprender. Enquanto a água esquentava, pus a mesa cuidadosamente - como de costume - , piquei os tomates e deixei separados com o orégano e o manjericão. "Está faltando alguma coisa..." Abri um dos armários da cozinha e comecei a procurar o que colocar junto com os outros ingredientes. "Nah... Acho que assim tá bom. Cadê essa menina?"
Enquanto imaginava o que poderíamos fazer para passar o tempo até domingo à tardinha - "aquele verme me paga pelo que fez com o Bruno e com essa menina" - e o que Isabela estaria fazendo para demorar tanto a aparecer, continuei cozinhando. O macarrão ficou pronto e fiquei pensando, ao mesmo tempo, que deveria estar gostoso e que eu poderia ter colocado mais alguma coisa entre os ingredientes. Servi um prato para Isabela, outro para mim e disse:
- Está na mesa, menina. Vem comer.
- Estou indo.
"Onde ela está? No meu quarto? E fazendo o quê lá?" Terminei de servir os pratos e fui para a cozinha para deixar a panela. Quase tomei um susto quando voltei para a sala e vi que Isabela já estava lá. "Como não a ouvi voltar? Estava usando botas de salto!" Claro... Estava descalça agora.
- Você fez jantar para dois? Que amor! - ela disse sorrindo.
- Isso é mais ou menos o que eu disse ontem, não é?
- Eu sei. Foi de propósito - ela disse com um sorriso tranquilo.
- Quer tomar daquele vinho que abriu ontem?
- Quero.
Fui para a cozinha de novo pegar um cálice e a garrafa de vinho para ela. De dentro do armário, além do cálice, tirei um copo de vidro e de dentro da geladeira, além do vinho, tirei uma Coca-Cola. "Que vergonha! Ela tomando um vinho caríssimo e eu, um refrigerante de R$ 2,50 a garrafa de DOIS LITROS! Que absurdo!" Fechei a geladeira e voltei para a sala com a cara mais vermelha do mundo.
- Eu não acredito... Você me serve um vinho caríssimo e vai tomar um refrigerante de R$ 2,50 por uma garrafa de DOIS LITROS?!
"Que droga..."
- Que coincidência! Acabei de pensar a mesma coisa com as exatas mesmas palavras.
Enquanto eu falava e punha as coisas em cima da mesa, Isabela saiu em direção a cozinha, rápida, e voltou com outro cálice.
- Você vai me acompanhar no vinho também, não vai? - disse colocando o cálice à frente do meu prato e mostrando um sorriso doce.
- Ah... É que...
- Eu sei que você não bebe, mas eu tenho certeza de que uma vez só não vai causar trauma nem fazer mal. Por favor...
- Tá bom - peguei o copo e a garrafa de refrigerante e levei de volta para a cozinha. Voltei para a sala, sentei-me, servi um cálice para cada um de nós e começamos a comer.
- Ainda bem que fez esse macarrão. Não posso chorar, que morro de fome.
- Imaginei... Também sou assim. Não sei como funciona para a maioria das pessoas, mas eu morro de fome depois que choro.
- Por falar nisso... Esse macarrão ficou ótimo. Qual é o segredo?
- Não sei... Macarrão, tomate fresco, orégano, manjericão...
- E nada de molho. Adorei!
- Que bom! É ótimo saber que uma diversão minha agrada outras pessoas também.
- Então gosta de cozinhar?
- Adoro. Sempre adorei. Mesmo antes de aprender.
- Como assim "mesmo antes de aprender"?
- Bom... Sempre gostei de comer. E sempre quis aprender a cozinhar. Desde garoto. Um dia fiz uma promessa: aprenderia a cozinhar antes de me casar e, depois de casado, seria eu a comandar a cozinha, e não a minha esposa.
- Então, a julgar por esse macarrão aqui, sua esposa vai ser uma mulher muito feliz - ela disse sorrindo.
- Assim espero. - respondi retribuindo o sorriso.
- E vai ter de fazer muito exercício físico, pelo jeito - ela disse com um risinho.
- Isso não vai ser problema, eu acho. Sou muito elétrico. Vou acabar levando a minha esposa pra essa onda de exercício físico.
- Que bom!
Parei por um momento e observei-a enquanto ela comia. Sorri, sem que ela visse, e tornei a comer. Eu tinha tomado pouco mais de dois dedos do cálice que servi para mim. Ela notou e...
- E o vinho? Que achou?
- Por incrível que pareça, gostei dele. É docinho.
- Por que não bebe?
- Não gosto do gosto do álcool. Pra não dizer também que não sou muito resistente a ele.
- Mas não é tão fraquinho que se altere com um cálice de vinho, é?
- Bom... A última vez em que tomei vinho já faz uns dez anos e eu virei um filósofo apaixonado com meio cálice.
Ela riu quase descontroladamente. "Que risada gostosa!"
- Um filósofo apaixonado, Dé?
- É... Falava coisas que não faziam muito sentido e dizia amar alguém uma vez a cada dois minutos. Foi uma piada.
- Eu queria ter visto isso.
- Aliás... Desconfio de que seja o mesmo vinho. O gosto me parece o mesmo.
Ela parou. Olhou-me durante alguns segundos com uma cara que não sabia se queria rir ou achar aquilo muito estranho.
- Que foi?
- Se foi o mesmo vinho...
- O quê?
- Vamos! Termine esse cálice! Eu quero ver o filósofo apaixonado!
- Ah, sei... Quer que eu termine o vinho e fique embriagado para ver o filósofo apaixonado?
- Ahn... E por que outro motivo eu quereria que você terminasse o vinho? Pra te levar pra cama comigo?
Embora me parecesse previsível essa resposta, fiquei surpreso com ela. Tentei não mostrar que tinha ficado um bocado desconsertado.
- Talvez para não desperdiçar um vinho caro - "eu podia ter umas respostas um pouco melhores. Eu me rendo!"
A essa altura eu já tinha terminado o meu prato. Ainda tinha mais da metade do cálice de vinho. Peguei-o, suspendi à altura do meu rosto e...
- Bem... Depois não reclame do resultado final - disse tentando parecer sério, mas não pude conter o sorriso. Uma boa golada do vinho e devolvi o cálice à mesa.
- Essa é boa... Filósofo apaixonado...
- Você, pelo visto, é uma apreciadora de vinhos, não é?
- Ah... Eu fiz um curso uns dois ou três anos atrás. Mais por achar que é uma coisa fina que por gosto real pelo vinho. Aprendi a gostar durante o curso.
- Interessante - tomei mais um gole e o cálice estava quase no fim.
- E você tinha tempo para fazer curso de qualquer coisa que fosse mesmo sendo modelo?
- Ah, eu tinha. Achava ótimo. A carreira de modelo costuma tomar muito tempo das pessoas, mas a minha não foi bem assim. Fiz esse curso, um de decoração, um de tiro...
- Imaginei que tivesse feito o de tiro. Não conheço muitas pessoas que empunham uma arma como você - e adeus ao último gole de vinho. "Eu quero ver quando essa coisa começar a fazer efeito... Qualquer que seja a impressão que ela tenha de mim vou acabar pondo abaixo."
Ela terminou de comer, juntou os talheres, tomou o seu último gole de vinho e eu recolhi a louça. Deixei tudo dentro da pia e voltei para a sala. Ela estava na varanda, debruçada no parapeito. Fui até lá e fiquei ao lado dela.
- Como é que aquele verme sabe o bastante pra advertir uma pessoa que contratou pra me matar e não sabe onde eu moro?
- Não sei... Não faço ideia, na verdade.
- Chega a ser engraçado saber que ele não sabe onde eu moro e saber que moramos no mesmo país, no mesmo estado, na mesma cidade, na mesma quadra...
- Eu também acho. Talvez seja só uma questão de tempo até ele descobrir.
- Ah... Eu... - "Ooopa... Cadê as palavras quando preciso delas? Será o vinho? Já?"
- Você...?
- Eu duvido - "Ufa!" - . Se ele não me achou até agora e mandou alguém me achar e acabar comigo, eu acho que... ele não me acha mais.
- Dé... Você tá falando engraçado.
- Que droga... Eu te avisei sobre o vinho, não avisei?
- Hihihi... - ela riu docemente. - Avisou.
- Vem cá - encostei as costas no parapeitoe a puxei para minha frente. Abracei-a e encostei sua cabeça no meu ombro.
- O seu abraço é tão gostoso... Sabia disso?
- Sabe... Eu estou começando a me convencer disso. Não é a primeira vez que você vem parar nele.
- Eu acho que vou deitar um instante. Minha cabeça está doendo um pouco.
- Vai lá. Eu vou ficar aqui um pouco. Ver se passa o efeito do vinho.
- Sei... Não passa rápido assim, viu?
- Ah, passa. Comigo passa. Daqui umas duas horas eu estou novo.
- Tá bom.
Ela entrou. Não vi para que quarto ela foi, mas não duvido que tenha sido o meu. Fui para a sala, tirei o violão de dentro da bolsa, sentei no chão da varanda e comecei a tocar. Improvisei qualquer coisa durante um bom tempo, enquanto olhava para o céu. E que lindo estava ele. Limpo, uns poucos floquinhos de nuvens, uma lua cheia, enorme e branca... Fazia pequenas pausas na música para olhar para o céu e depois tornava a tocar. Passei mais de uma hora nesse ritmo de música e pausas até resolver levantar. Levantei-me, coloquei o violão em cima da bolsa e... "Que barulho foi esse?" Abri o bolso pequeno da bolsa do violão e tirei a pistola de Isabela de dentro. "Acho melhor esconder isso. Ela pode se lembrar de onde eu guardei e querer usar." Hesitei um pouco... "Nah... Duvido! Mas... Espera um pouco..."
Voltei para a varanda com a pistola na mão e debrucei-me no parapeito. Comecei a analisar a pistola. Não tinha marca, não tinha nenhum código que indicasse modelo nem local de fabricação... Nada. Parecia ter sido feita sob encomenda. E perfeita. Toda em aço escovado, cabo com placas emborrachadas, acabamento perfeito... "Melhor eu guardar isso. Não sei se ela vai gostar de me ver com essa pistola na mão."
Antes mesmo que eu pudesse me desencostar do parapeito, senti dois braços me envolvendo lentamente - um pelo peito e outro pela cintura - e Isabela me falou ao pé do ouvido com uma voz suave e preguiçosa:
- Que é que você está fazendo com isso aí nas mãos?
- Eu... - embora tivesse começado um risinho com a pergunta da moça, demorei a achar uma resposta. "Acho que o vinho ainda está fazendo efeito..." - Não sei direito... Dando uma olhada... - quase não consegui responder. O vinho e um par de lábios quentes e úmidos passeando pelo meu pescoço atrapalharam o meu raciocínio.
- Você continua falando engraçadinho.
- Eu... Eu... Acho que ainda... - "Como pode uma coisa simples como um beijo cortar a linha de racioncínio de uma frase tão curta?!"
- Ainda...?
- Acho que ainda é o... - "Não sei se me rendo aos beijos ou se..."
- O...?
- Vinho...
- Vem cá - ela me puxou para dentro do apartamento. Tirou a pistola das minhas mãos, largou-a junto do meu violão e, quando dei por conta, tinha sido jogado na minha cama.
- Ei... Não é querendo... - "Por que não consigo falar quando estou sendo beijado no pescoço?" - ... interromper, mas não acha... meio...
- Meio clichê? - ela parou e olhou-me fundo nos olhos com um sorriso maravilhoso. - Primeiro tento te matar, depois jantar com vinho, violão e agora isso? - E enquanto falava, tirou minha camiseta.
- É... - "Ainda bem que ela completou... Com vinho e tantos beijos eu não teria conseguido falar tão cedo."
- Eu acharia, se fosse você a me trazer pro seu quarto - ela disse enquanto amarrava as minhas mãos à cabeceira da cama com uma gravata. - Mas bem do jeito que está sendo... Não sei se é tão clichê assim.
As palavras saíram entre beijos que me atacavam no pescoço, nas orelhas e na boca. "Meu Deus do céu... Morri e não me avisaram?" Não pude conter uma respiração ofegante.
- Vai ter muito que ofegar ainda, menino. A noite vai ser longa...

9 comentários:

Luiza Callafange disse...

Uiii, quero detalhes dessa noite longa!

disse...

haha duas!

eu ainda acho que isso vai surpreender ... la la la (8)

:D

Maria Lopes disse...

"- Por que você quer me matar?
- Porque você sabe demais.
- Ah, claro! Eu sou professor, sabe? Eu preciso saber o que eu sei pra dar aula."

essa, pra mim, é a melhor parte de todas as partes!!! ;)

Aileen Daw disse...

Eita! Mulher de atitude!!! Vou aprender com ela! hihi
Vai descrever a noite longa??
:PPP

Pri disse...

Isso ainda vai dar pano pra manga rsrsr. To gostando da história .

=*

Anônimo disse...

Que poético... "ela com um vinho caro e eu com uma garrafa de coca-cola de DOIS LITROS"! Devo dizer que a surpresa dessa parte foi bastante... desagradável!

Anônimo disse...

O comentário acima foi nada menos que "maravilhoso"! Gostei mesmo, sem ironias, Sr. Anônimo. Abração!

Anônimo disse...

se a garrafa de Coca-Cola fosse de 3 litros, eu me apaixonava... sem ironias! =P

Isabela Pinheiro disse...

Dezinho! Faz quase dois meses que você postou isso aqui! Cadê o resto da história? Tou curiosa!
Beijinho da Pinha!
*: