terça-feira, 28 de maio de 2013

Amigos

Essa é uma palavrinha muito especial. E nos dizem, a vida inteira, um milhão de coisas sobre amigos - algumas verdadeiras e outras não. As coisas de que melhor me lembro agora são "você deve escolhê-los com cuidado" e "são a família que a gente escolhe". Nenhuma delas deixa de ser verdade, na minha opinião.

Amigos são uma maravilha, uma delícia, uma verdadeira bênção divina. Claro que a gente não pode simplesmente "deixar nas mãos de Deus"; é necessário cultivar as amizades. Espera... Acho melhor eu falar um pouco dos vários tipos de amigos - da maneira como eu aprendi a diferenciá-los.

Já ouviram falar em "amigos de interesse"? Tenho certeza de que já. Sabe aquela pessoa que só vem falar com a gente quando quer ou precisa de alguma coisa? Com alguns deles você até pode contar, desde que não seja nada sério ou grave. Alguns deles não se incomodam de fazer pequenos favores pra você - desde que você também faça pra eles. Sempre rolam pessoas assim por aí, mas não é desses amigos que eu estou falando.

Um pouco melhores do que esses, mas ainda não chegam lá pra mim, são os amigos de farra. Está tudo certo, tranquilo e lindo, eles estão lá pra comemorar e fazer farra. Arrumou uma namorada? Oba! Juntam-se todos num barzinho e bebemoram o novo casal. Dispensou a namorada? Oba! Juntam-se todos numa balada pra "pegar" quantas der vontade. Mas não tente passar um mau período no namoro - ou qualquer outro mau período - , que eles somem.

Tem também aqueles amigos "de época". Perdi as contas de quantas vezes eu ouvi pessoas me dizerem que conheceram gente legal na escola ou na faculdade, estudaram juntos um tempo e, quando acabou a escola ou a faculdade, nunca mais se falaram. E alguns desses amigos até são bons amigos mesmo. Daqueles que te ajudam a segurar umas barras meio pesadas e tudo. Mas, assim como "cabô míi, cabô pipoca", acabou a faculdade, acabaram-se eles.

Os amigos aos quais eu me refiro são outra história. Alguns deles você conhece há poucos dias e já sentiu que há uma sintonia maluca e, quando percebe, estão conversando coisas que não conversariam com muitas pessoas em quem confiam. Outros deles vêm desde a sua última "grande fase" da vida - no meu caso, desde o cursinho pra concurso público ou até a segunda metade da faculdade. Eles meio que chegaram de fininho, foram ficando, foram ficando e você não consegue mais se ver sem aquelas pessoas queridas.

E tem aqueles velhos amigos. Antigos, dinossáuricos e jurássicos. Esses são raridade, pelo que eu tenho ouvido as pessoas dizerem. Sabe aquele grupinho de amigos que você conhece desde sabe Deus quando? Aquele grupinho em que, quem você conhece há menos tempo, já conhece há mais de dez anos? NÃO?! Que pena! SIM?! Fala... Se um deles some, você morre, né não?

Esses não só são especiais pelo tempo de convivência, mas acaba que eles te conhecem tão bem quanto você mesmo - talvez até melhor. Eles estiveram lá pra te ajudar a estudar pra aquela maldita prova de física que quase te reprovou no primeiro ano, estiveram lá quando você terminou o segundo grau e passou no vestibular, estiveram lá pra te dar parabéns pela namorada nova e te botar no colo quando terminou, em todos os seus aniversários, nas farras de violão, piscina, churrasco, sauna, cerveja e choque térmico - uahwuhawuhawuahwuhaw!! - e estiveram lá até quando você era uma criança cabeçuda com óculos de fundo de garrafa e cabelo penteado pro lado. Aqueles que te conhecem bem desse tanto e te amam mesmo assim.

Independente de quanto tempo faz que você os conhece, um amigo de verdade pra mim, é uma bênção divina, sim. Eles estão lá quando você precisa, quando você quer e quando você menos espera. Comemoram, sim, quando você passar uma fase boa e vão estar por perto, sim, quando você passar por tempos difíceis. Vão ser o seu porto seguro e vão ter certeza de que você pode ser o deles também. E a melhor parte nem é só saber que você vai ter apoio quando precisar; pra mim, é saber que eles vão querer que eu seja o apoio deles quando eles precisarem. Essa confiança mútua é simplesmente impagável.

Meus queridos amigos, muitíssimo obrigado por tudo. Desde o apoio nos momentos mais difíceis até as divertidíssimas bagunças e - por que não? - pela simples existência de vocês na minha vida. Meus tesouros, minhas bênçãos divinas, minha família que eu escolhi.

Desapego

Essa é uma palavra que já soa meio dura. Só o prefixozinho "des" em qualquer palavra já dá uma noção de contrariedade que nem sempre chega leve aos nossos ouvidos - ou olhos.

Desapegar-se não costuma ser tarefa fácil, ainda que seja de pequenas coisas. Imagina aquele bichinho de pelúcia que você tinha desde quando era criança. Já não é muito fácil se desfazer dele, certo? Qualquer abestado diria: "É só um bicho de pelúcia. E você nem usa mais". Mas, como eu falei, é um abestado.

Aquilo não é só o seu bichinho de pelúcia. Tampouco só o seu bichinho de pelúcia preferido. Se fosse simples assim, primeiro, os seus pais comprariam outros pra você com alguma frequência - e isso não acontece. E, segundo, você não precisaria que alguém dissesse "tá na hora de se desfazer disso, né?". Só que aquele bichinho de pelúcia é especial porque ele enfeitou uma prateleira do seu quarto durante muito tempo. Aliás, bem provável que ele tenha enfeitado a sua cama. E quantas noites você dormiu abraçado(a) com ele? E quantas vezes você já pediu pra sua mãe costurar o focinho, o braço ou a orelha? Não, definitivamente não é "só um bicho de pelúcia que você não usa mais".

Não vou me cansar nunca de perguntar isso: e quando é com pessoas?

Aí, minha cara leitora e meu caro leitor, é que não é fácil mesmo. Ou não costuma ser. Nesses meus quase vinte e sete anos, vendo pessoas virem e irem, andei aprendendo algumas coisas sobre o desapego.

Acho que a mais relevante - ou uma das mais - é que, quando você tem um motivo pra se desapegar, é ridiculamente fácil. Oquei, talvez eu tenha me expressado errado. Por exemplo... Quando você descobre que aquele vadio te traiu, você termina o namoro puta de raiva e rapidinho arranca o peste da cabeça. Não? Bom... Pra mim funciona assim - mas com a devida transposição pro feminino, por favor.

Bem pelo contrário... E quando é aquela amiga que, por algum motivo que ninguém na vida consegue explicar, você "ama de paixão"? Faz um tempaço que ela não te liga, quando é você quem liga, ela atende rapidinho e nunca pode falar, não retorna suas ligações, não responde mensagem de celular nem e-mail, mas ainda assim você adora a peça? Desapego fica complicado... Você faz - quando faz - a contragosto. Você faz porque, em algum momento, percebe que não tem espaço na vida daquela pessoa, mas ainda tem uma coisa torta no peito que te diz "Nããããão! Não esquece, não! Continua ligando". Uma bela maldição...

E ainda tem aqueles casos - tortíssimos, na minha opinião - em que o desapego é meio forçado. Do tipo "dar um tempo". Eu sempre tive na minha cabeça que "dar um tempo" só serve pra duas coisas: pra alguém aparecer com chifre ou pra adiar um fim inevitável. E, nesse segundo caso, ao menos quando o sujeito já está calejado, ele já vai se preparando psicologicamente pro "golpe de misericórdia" - que, muitas vezes, não é muito misericordioso. Já vai se acostumando a não ouvir o telefone tocar, a não programar um fim de semana assim ou assado e, às vezes, à ideia de devolver umas coisas que estão no quarto.

Claro que algo tão penoso e complicado de se fazer tinha de ter uma compensação - afinal de contas, a, por vezes, aguda e longa dor do desapego não podia ser só uma dor gratuita. Depois do preparo psicológico prévio pro golpe de misericórdia ou do simples exercício do desapego, a sensação acaba sendo boa. Você se sente...

Desapegado.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Nostalgia

Eis aí uma palavrinha que ouvimos com alguma frequência, especialmente vinda da boca do pessoal que já passou dos vinte anos. E quanto mais velhos ficamos, mais temos tendência a essa sensação torta que é a nostalgia - digo torta porque, apesar de, no dicionário, ser irmã gêmea da saudade, normalmente as pessoas que parecem nostálgicas não parecem ter muita saudade daquilo de que falam.

Agora há pouco, no banho, eu estava cantando uma música da Marina Lima. Não lembro qual é o nome da música, mas ela diz: "Essa noite eu quero te ter/ Toda se ardendo só pra mim/ Essa noite eu quero te ter/ Te envolver, te seduzir". Isso me faz lembrar que eu não consigo ver música - de maneira geral - tão boa quanto a da década de oitenta. E aí começa a entrar uma das nostalgias de que as pessoas falam: a falta que faz um tempo ido, muitas vezes anterior às próprias pessoas. Cara! Quando eu nasci, provavelmente a Marina já tocava essa música! Que coisa doida...

Eu não consigo não brincar assim, de vez em quando: "Eu, sujeito quadrado, nascido na metade dos anos oitenta...". Ou, às vezes: "No meu tempo, tevês tinham uma cauda comprida, video game era preto e tinha fios e carro esportivo tinha o motor grande, e não as rodas". Não só quando eu digo isso, mas, vez por outra, quando eu ouço as pessoas dizerem que as coisas parecem meio distorcidas, tortas ou fora do lugar hoje em dia. A própria música, o comportamento das pessoas, o mundo, os valores...

Aquele filme "Meia-Noite em Paris" retrata a nostalgia da maneira como as pessoas mais interpretam hoje em dia. Os personagens sempre têm a sensação de que o tempo anterior aos seus era melhor que os seus próprios tempos. O personagem principal, do século XXI, acha que a época mais legal eram os anos vinte do século XX. A personagem dos anos vinte, por sua vez, acha que a melhor época era a Belle Époque, muitos anos antes de seu tempo também.

E parece que é assim que muitas pessoas se sentem. Eu, inegavelmente, afirmo com todas as letras que não houve época melhor pra música que os anos oitenta. Pro resto, talvez os anos noventa. A melhor época da minha vidinha foram os anos 2002 e 2003 - quando eu estava no segundo grau e só precisava fazer dever de casa. Muita gente concorda com essas e outras coisas. O melhor tempo da música é a década xis, o melhor do cinema foi a ípsilon, o melhor da vida foi a faculdade ou a adolescência...

No fim, somos todos nostálgicos e tortos, achando que não pertencemos à nossa época.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"Mas foi só uma galinha..."

Assim como provavelmente a maioria de vocês, eu soube recentemente do, vamos dizer assim, espantoso episódio da galinha voadora num colégio da asa norte. E claro que, como a maioria das pessoas, assim que soube com detalhes do episódio, tirei as minhas conclusões. Nada mais justo que dividi-las com vocês, meus caros leitores.

Pra quem não sabe do episódio, é muito simples: num determinado colégio aqui em Brasília, na asa norte, um aluno apareceu com uma galinha - é meio inusitado, eu concordo. Esse sujeitinho e/ou seus colegas resolveram tirar a galinha de dentro da caixa onde ela estava e "brincar" com ela. Coisas como assustar, trancar num lugar com pessoas que, provavelmente, vão se assustar - e, consequentemente, assustar o pobre do animal... Essas coisas nada saudáveis que fazem a alegria de um adolescente de vez em quando.

O orientador disciplinar - que eu já tive a oportunidade de conhecer e, a julgar pela descrição dada por outro funcionário do colégio, que disse que "vê se os meninos estão dentro das salas de aula, se estão de uniforme...", enquadra-se perfeitamente no trabalho de um bedel - , ao ver a cena, decidiu simplesmente livrar-se da galinha. Pra surpresa da maioria, pegou o animal pelas asas e pelas patas e atirou-a para o outro lado do muro da escola.

Vamos parar um instante. Primeiro: por que diabos um adolescente levaria uma GALINHA pra escola? Quer dizer... É claro que o orientador disciplinar fez o que fez e não foi nada bonito, mas não tiremos do menino a parcela da história que cabe a ele. Vamos concordar que nada disso teria acontecido se ele não tivesse se aventurado a levar uma galinha - em vez de um brinquedo ou um instrumento musical - pro colégio.

Como se não bastasse o fato, ainda tem gente que defende o orientador disciplinar dessa escola. Que não é justo culpá-lo por isso e por aquilo. Não?! Não é justo?! Tá... Pergunta clássica do blog: e quando é com pessoas?

É claro que não foi nada demais. Afinal de contas, foi uma galinha que ele jogou por cima do muro. Mas e se fosse o cachorro de estimação de uma dessas pessoas que estão defendendo esse personagem da história? E se o orientador disciplinar tivesse jogado por cima do muro o seu yorkshire terrier ou o seu maltês? Eu tenho certeza mais que absoluta de que não seria "nada demais". Seria, né? Eu sabia que concordaríamos em algum ponto.

O próximo passo - e o mais importante de todos - são as lições que esse sujeito ensinou aos adolescentes ao jogar o animal por cima do muro. Pra começo de conversa, que "problema dos outros a gente joga por cima do muro". Que tal? E que tal "você não precisa se importar se é um bicho de estimação de outra pessoa, contanto que você se livre do problema"? E que tal ainda "vale tudo pra manter a disciplina na escola"?

O que um sujeito desse não lembra é que quanto mais alto o cargo que a gente exerce, maior a responsabilidade que a gente tem. Quanto mais alta a posição, mais pessoas ouvem o que a gente diz e veem o que a gente faz. O que esse cara não lembra é que NINGUÉM tem o direito de fazer o que ele fez e, muito menos, um ORIENTADOR DISCIPLINAR, que deveria manter a disciplina e, muito antes disso, dar o exemplo aos alunos da escola em que trabalha e a todos os outros.

E o que eu acho que ninguém pensa é que as pessoas que acham graça de um episódio como esse e/ou as que defendem pessoas como o nosso personagem em questão são o mesmo tipo que queima índio, espanca garçom em bar na praia, estupra criança no parque e outras coisas horrendas que as pessoas têm mania de achar que quem faz é quem não tem discernimento.

Não têm, mesmo, mas frequentam escolas particulares e tudo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Incerteza

Hoje eu chorei. Não que isso seja uma novidade na vida das pessoas ou na minha, mas eu chorei como eu não sei se as pessoas normalmente fazem quando passam por certas coisas.

Uma fase maldita na vida de uma pessoa é a tal de estudar pra concurso público. Tem gente que já sai da escola pensando nela e preparando-se pra ela desde cedo. Já entra numa faculdade de direito como uma forma de adiantar algumas matérias necessárias pra ser aprovado e tudo mais. Há outras pessoas, eu diria que menos sortudas, que acabam caindo na fase do concurso público por não ter outra opção.

Uma pessoa que escolhe cursos como medicina, direito ou arquitetura sai da faculdade com emprego na maioria das vezes - ou com uma boa perspectiva. Já sabe o que vai fazer da vida, já sabe que tem mercado pra ela e, normalmente, já sabe que tudo pode dar certo. O fato é que algumas pessoas escolhem profissões "erradas", ou seja, aquelas que, por algum motivo, não têm perspectiva boa de crescimento. Como é o caso do professor, que a gente bem sabe o que passa.

"Tudo bem. Passar num concurso não deve ser tão difícil assim." E a gente se anima, se programa pra estudar tantas horas por dia, tantas matérias e estar preparado pra aquela prova que pode resolver a nossa vida em definitivo - quer dizer, considerando que o serviço público dê mesmo a segurança e a estabilidade com as quais todo mundo sonha. E há dias em que a gente se sente ótimo. A gente sente que está aprendendo, que está cada dia melhor, que o ritmo de estudo está bom e que a aprovação está cada vez mais perto.

E há dias em que a gente não sabe se dá conta ou acha que não dá. De repente, tem uma pilha de livros abertos em cima da mesa, bem na frente dos seus olhos. Você sabe que está estudando várias horas por dia até porque ninguém diz que é pouco. E você estuda, e estuda e vê aquela pilha de livros na sua frente, um edital com um monte de matérias que você não sabe se vai dar conta de aprender a tempo e aí é que fica legal: bate aquele medo horrível de não passar, de não dar conta. E depois? E se não passar?

Mas por que eu chorei hoje? Parece bobo, mas eu vi o meu gato. Só isso. Um felinozinho bem deitado numa cama, enrolado num cobertor, dormindo igual a um anjo. E pense: "Que vida mansa. Ele tem uma casa onde morar, pessoas que o amame o alimentam... e pronto. Vai ter isso pro resto da vida." Soma-se isso ao medo de não passar num bom concurso público, causado por uma pilha de livros abertos e um dia em que a cabeça parece não funcionar direito e pronto: um humano que acha que gostaria de ter uma vida como a do seu bicho de estimação por pensar que deve ser muito mais tranquila.

É normal?

sábado, 27 de agosto de 2011

Para os mudanceiros

Mudanças. Não sei por que, mas tem gente que adora mudanças. Tira um móvel do lugar e coloca em outro, troca o relógio de braço compra um guardarroupa novo, muda corte de cabelo e tudo mais. E tem gente que muda quase tudo na vida do mesmo jeito que muda de ideia. E, às vezes, acontece assim com mudanças mais profundas. Mas o que poucos percebem é que, no fundo, muitas vezes as coisas mudam e continuam as mesmas.


Dos sete até os catorze anos de idade, você é uma criança que tem de vestir um uniforme - muitas vezes feio - e ir pra escola. Você passa sua manhã ou sua tarde numa sala de aula e sua tarde ou sua manhã fazendo o dever de casa em casa. às vezes rola aquele curso de inglês ou aquela aula de natação, mas é uma rotina bem certinha. Nos fins de semana, você vai com a sua família pra casa de um tio e passa a tarde de domingo inteirinha lá e, nas férias, você pode dormir até mais tarde e ficar mais tempo embaixo do bloco com os seus amigos.


Dos quinze aos dezessete anos tudo muda. O seu uniforme não é mais tão feio - em parte porque agora você pode usar calça jeans e não é mais obrigado a usar tênis - , você muda de pátio no colégio e tem matérias diferentes pra estudar. O que é melhor: você não é mais criança; é um adolescente. E agora o seu rosto tem espinhas, você começa a notar que você - rapaz - está ficando mais alto e - moça - seus quadris e seios de mulher já estão definidos. O que pouca gente repara é que você continua passando um turno do seu dia na escola, outro estudando em casa, a tarde de domingo na casa do tio e as férias embaixo do bloco. Tá, às vezes rola uma boate, um show ou coisa assim - porque, afinal de contas, você não é mais criança - , mas eles só enraram no lugar do video game e do cinema.


E aí você entra na faculdade. Seu pai já não te leva pra mesma escola - e, muitas vezes, você mesmo é quem dirige pra faculdade - , você não usa mais um uniforme, pode não saber se vai passar um ou dois turnos do seu dia no novo local de aprendizado e praticamente todas as amizades mudam. Claro que você conserva os velhos amigos da escola, mas um queria fazer Direito, o outro queria Medicina e o mais doido queria Engenharia Mecatrônica. É tudo absolutamente novo! Incrível! O que é mais incrível ainda é que você continua passando uma parte do seu dia numa sala de aula, outra parte estudando em casa e tudo mais. Tudo novo mesmo?


Depois de quatro ou cinco anos - na maioria das vezes - , você se forma. Veste uma roupa engraçada, sobe num tablado, recebe um diploma e um abraço de um professor que você pode nunca ter visto e pronto. Vamos para o mercado de trabalho. E aí você vai para um cursinho estudar pra um concurso público ou pra entrar na entidade de classe da sua profissão. É tudo diferente: você não tem mais de tirar boas notas pra passar de ano, não tem deveres de casa e, definitivamente, vai estudar só as matérias lhe forem convenientes. Mas vai continuar passando uma parte do seu dia numa sala de aula e outra parte estudando em casa.


E essa fase, fatalmente, acaba. Você passa num bom concurso público ou tira o seu CRAlgo, é nomeado ou contratado e vira um cidadão respeitável, com direitos, obrigações e um contracheque. Vai para um escritório trabalhar de seis a oito horas por dia e voltar pra casa, porque no outro dia tem de fazer tudo de novo. Ah! Você não está mais numa sala de aula, é verdade. Mas está num escritório, consultório, gabinete ou coisa parecida. E passa parte do seu dia lá, fazendo o que tem de fazer e, possivelmente, vai passar uma parte do dia em casa fazendo coisas do trabalho.


Mudou alguma coisa?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Palavras de um Ex


Ai, você...


Você era uma loucura alguns anos atrás. Eu te desejava como todos na minha idade te desejavam. Eu te desejava com amor, com paixão, de corpo e alma, quase alucinadamente. Todos os dias pensava em você. Você era o meu sonho de consumo, meu desejo, minha motivação, minha inspiração, minha musa.


E um dia eu consegui te alcançar! Como foi lindo!


Os primeiros dois anos foram realmente como uma paixão louca. Eu acordava pensando em você, dormia pensando em você e sonhava com você quase todas as noites. E mesmo de dia eu era bem capaz de sonhar acordado com você. Passava os meus dias inteiros no teu seio e adorava isso. Parecia que nada mais era necessário. Eu e você tínhamos uma relação louca, insana, quase doentia.


E aí a nossa relação ficou doentia de verdade...


Eu não queria mais passar o dia inteiro com você, mas você não me dava escolha. Queria ir embora, mas você não deixava. E, quando ia, você me fazia pensar em você o tempo inteiro. Que inferno! Passou-se mais um ano, e mais um, e mais outro... Todos pensavam que, ao final de cinco anos, eu seria capaz de me livrar de você. Mas eu não fui. Eu sabia que precisava de mais algum tempo. O que eu não sabia é que eu precisaria de tanto tempo a mais.


Os dias, então começaram a passar como horas. As horas, como minutos. Os minutos, como segundos. E cada segundo era uma eternidade. Eu não conseguia mais ver a hora de me livrar de você. Você já não era mais o meu desejo, a minha motivação, a minha inspiração; era agora a minha doença, a minha praga, a minha maldição. E quanto mais eu fizesse para me livrar de você, mais você parecia grudar em mim e tomar conta da minha vida. Minha rotina funcionava em seu favor. Meu trabalho vinha em segundo plano, porque você assim queria. Até amizades minhas mudaram por sua causa.


Mas hoje, depois de sete anos, eu finalmente me libertei!


Daqui a pouco - pensei em dizer anos, mas já posso dizer segundos ou décimos de segundo, se eu quiser - , eu vou olhar para você e dizer "Até mais". Ou "Até nunca mais". Você já tomou mais de um quarto da minha vida, e agora eu quero dar espaço para outras coisas, que agoro julgo mais importantes que você. Ah, esqueci! Era você que se julgava mais importante que tudo! A minha rotina, o meu trabalho, tudo era por sua causa. Mas agora, minha querida, não é mais. Nada disso. Nada meu tem a ver com você. Carrego duas marcas suas, é verdade. No entanto, para mim são duas provas de que eu sobrevivi a você, são dois troféus, duas medalhas que vou pendurar no pescoço, por baixo da camisa, e mostrar para quem quiser ver.


Adeus, querida. Quem sabe não nos vemos de novo? Mas não como antes, não numa relação doentia, de uma necessidade psíquica desmedida e incontrolável. Adeus, meu bem. E apesar de tudo, obrigado por tudo.


Adeus, UnB!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Raiva

Assim. Curta. Grossa. Ríspida. Dura. Dissíliba, cinco letras e, só pra variar, de um impacto imenso na pessoa que se atreve a senti-la.
Mas como a raiva vem até nós?
Não sei. Na verdade, às vezes não faço ideia. Mas acontece, de vez em quando, de estacionarmos o nosso carro onde quer que seja e, quando voltamos, tem um maldito amassado na nossa porta. Calma... Tem um o quê? Amassado na porta? Não, antes disso... Tem um MALDITO amassado na porta. Hmmm...
Aí você chega em casa já meio fulo da vida - ou mesmo que não chegue nem meio fulo da vida - , deixa as suas coisas onde elas têm que ficar e dá uma bela topada com o mindinho do pé no pé do sofá. Primeira coisa que vem à cabeça? Não sejamos hipócritas! A maioria das topadas com o pé no pé do sofá vêm seguidas de um sonoro "puta que pariu". Mas dito assim: PUTA QUE PARIU! Heim?! Como? De onde veio esse palavrão?
Tá. Já vimos que alguma coisa nossa que, por algum motivo, aparece estragada e dor às vezes levam-nos a ter raiva. Mas tem aquela velha pergunta que, volta e meia, rola solta pelo Answerless: e quando é com pessoas?
Alguns de nós já tivemos a infelicidade de ganhar um chapéu de boi. Até aí, digamos que não haja problema - mas há. O fato é que a coisa pega na gente de verdade quando descobrimos. E aí, meu querido e minha querida, sobe aquele vapor de alguma coisa à cabeça e não tem santo que consiga te fazer parar de dizer impropérios sobre aquele infeliz que te condecorou com o chapéu de boi. Ou tem? Não. Não tem.
Não só acontece assim, como também acontece quando damos um voto de confiança a uma pessoa e ela faz exatamente o oposto do que deveria com o seu voto de confiança. Tipo assim... Você cede a sua casa, o seu espaço, abre mão da sua individualidade e privacidade em vários aspectos e, de repente, a pessoa que você acolheu vai embora sem nem deixar rastro. Ahn? Você fica com o quê?
E claro que eu não podia deixar de mencionar aquele Zé-Ruela que vai ao seu blog e publica comentários ridículos em anonimato. A primeira coisa que vem é o incômodo de ler aquele impropério no seu blog. A segunda que vem é a pulga que coça atrás da orelha porque você não consegue saber quem é o infeliz que teve a covarde audácia de te ofender - ou algo assim - sem se identificar. Vai... É o fim da picada, né?
Juta todas essas coisas num só dia ou momento e pronto! Você avermelha, fumaça, espuma e faz mais um bocado de coisas que a gente só faz quando tem o quê? É... Aquela coisa feia que faz a gente falar palavrões e ter vontade de encher um e outro de porrada até a tampa.
É humano, né?

Burocracia

Caríssimos leitores,
Muitos de nós cremos - ou sabemos - que cada um de nós tem uma missão nessa vida e/ou mundo, e é em função disso este pequeno comunicado.
Ando percebendo que existem certas criaturas - a quem podemos referir-nos como nécios, apedeutas, baguais, biltres, sacripantas, mentecaptos, cretinos ou infelizes filhos de uma puta - cuja miserável existência tem como objetivo nada além de levar sua própria miséria a outras pessoas, incomodando-as pouco a pouco até que percam a paciência, a sanidade mental ou qualquer outra faculdade ou atributo humano que nos torne pessoas dignas e civilizadas.
Em decorrência de tal constatação, gostaria apenas de avisá-los que comentários passarão por um filtro antes de virem ao blog. Comentários anônimos continuaram sendo permitidos. A diferença é que agora não é qualquer nécio, apedeuta, bagual, biltre, sacripanta, mentecapto, cretino ou infeliz filho de uma puta que pode ter seu comentário aqui.
Aos leitores que não se enquadram no perfil descrito acima, não vai fazer diferença. Sintam-se à vontade pra ler e comentar quando quiserem.
Beijos e abraços!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Despedida

Eis aí uma palavra com um perfil um pouco incomum aqui no blog. Essa não é tão curta, são quatro sílabas, nove letras e... Vamos dizer assim: não é fácil. Nem um pouco. É claro que, só pra variar, estamos tomando por referencial um canceriano que, como eu, tem dificuldade com desapego e afins. Mas, no geral, não costuma mesmo ser uma palavra fácil de se usar ou um assunto fácil de se discutir.
Como um bom exemplo de canceriano, confesso que sou uma pessoa um pouco avessa a grandes mudanças, especialmente porque mudar normalmente implica despedida. Às vezes a gente se despede de alguma coisa, ou de uma pessoa, ou de algum objeto pessoal e assim vai. Muitas vezes pode ser difícil fazer algo que parece tão simples quanto virar a palma da mão pra frente e balançar a mão para os lados.
Semana passada, precisamente, fiz uma grandessíssima mudança na minha rotina. Hoje mesmo começo a ter aulas num cursinho preparatório pra concursos públicos - pois é, lá vou eu também. Mas semana passada eu era, há mais de um ano, professor de um cursinho pré-vestibular. Estava tudo em seu devido lugar: horas e horas de aulas e monitoria durante a semana com um final de semana restaurador pra eu começar tudo de novo na outra segunda-feira, folhas de ponto pra preencher, matérias pra ensinar a um monte de alunos e coordenadores a quem prestar contas de vez em quando.
E onde entra a despedida? Em função da nova rotina e da impossibilidade de conciliar todas as atividades, tive de sair do cursinho onde trabalhava. Assim, de repente. Sexta-feira eu estava cumprindo as minhas horas e ensinando os meus conteúdos e segunda-feira eu não tinha mais horas pra cumprir ou conteúdos pra ensinar. Muitos devem pensar que é uma beleza não ter que trabalhar, não ter contas a prestar nem satisfações a dar. Mas e aquela coisa toda da satisfação profissional e outras coisas que isso envolve?
Deixei de fazer aquilo que mais gosto de fazer como profissional de um dia pro outro. Deixei de conviver com os meus colegas de trabalho, de frequentar um ambiente que ocupava boa parte das minhas horas, de interagir de várias formas com mais de trezentos alunos e assim vai. O mais difícil nisso tudo, na minha opinião, nem foi quebrar drástica e totalmente a minha rotina, mas a relação com as pessoas.
De novo como um bom canceriano, torno a confessar que tenho certa dificuldade em me desfazer de certas coisas. E ver que muitos dos meus alunos - e quando digo "muitos" quero dizer "muito mais do que eu esperava" - ficaram insatisfeitos e até inconformados com a minha saída me partiu o coração. Na minha cabeça - e modéstia à parte - , eu era apenas "um bom profissional cumprindo o seu trabalho", chegando na hora, indo ao trabalho todos os dias e fazendo bem o que tinha que ser feito.
Existem vários fatores que contribuíram pra minha tomada de decisão e atitude tão de repente. Claro que nenhum de nós, em sã consciência, faria algo assim por nada. É sempre pelo nosso bem. Mas aquele monte de adolescentes fazendo caras de insatisfação e inconformidade me comoveu. E me fez pensar que despedida nunca é fácil.