quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Olhos


Todo mundo tem. Não só tem como tem dois. Castanhos, azuis, verdes, vermelhos, escuros, claros, grandes, pequenos, míopoes, hipermétropes, astigmatas, estrábicos, cegos e por aí vai. São coisinhas tão comuns... Vemos isso todo santo dia quando nos olhamos no espelho, quando falamos com outras pessoas, quando damos bom-dia pro nosso gato - sim! por que não incluir olhos de animais nisso? - e até quando vemos aquelas propagandas chatas que passam na TV.

O mais curioso é o que pode haver por dentro deles. Inúmeras teorias e pessoas dizem inúmeras coisas e coisas a respeito dos olhos. Há quem diga que é onde se guardam os mistérios, há quem diga que é onde se guardam as verdades, há quem diga que são as janelas para a alma e, na minha opinião pessoal, eles entregam muito mais do que só mistérios, verdades ou janelas para a alma.

Quanto de nós fica guardadinho dentro da gente? Quer dizer... Quanto de nós nós deixamos de revelar por meio de palavras ou gestos ou por meio de qualquer outra coisa? E o que é isso que costumamos deixar guardado - e, às vezes, escondido?

Disfarçar ou esconder uma idéia é extremamente fácil, na maioria das vezes. É coisa que a gente pensa e os olhos não são, eu diria, exatamente técnicos - na falta de termo melhor - pra transparecer alguma idéia. Já é mais difícil esconder alguma coisinha mais, digamos, corriqueira. É meio complicado esconder sono, cansaço ou empolgação, por exemplo. Mas isso é físico. Olhos vermelhos ou levemente caídos ou coisa no estilo são coisas que não têm lá como disfarçar - nem motivo, na maior parte do tempo.

E as emoções? E os sentimentos? Esses, muitas vezes, fazemos de tudo pra não deixar transparecer. Curiosíssimo, não? Uma raiva de alguém, uma indiferença, um aborrecimento, uma quedinha, uma admiração ou uma paixão louca... Isso são coisas que as pessoas costumam esconder, pelo que tenho visto nos últimos vinte e um anos e meio. E por quê?

O mais curioso dessa história toda é o quanto é fácil entregar essas coisas que a gente sente e, por incrível que pareça, o quanto é fácil perceber essas coisas em outras pessoas. Tudo isso pode ser feito por meio de um contato entre os olhos. Geralmente, quem quer esconder algo, evita olhar nos olhos. Fure, com os seus, os olhos dessa pessoa de quem você quer saber alguma coisa nesse gênero e veja o que acontece. É uma das coisas mais lindas do mundo quando duas pessoas se olham nos olhos com fome de olhar nos olhos. E, então, tudo aparece como por encanto. Todas aquelas coisas escondidas dentro daquela pessoa parecem sair como num grito desesperado, como se tudo aquilo estivesse preso e com sede de liberdade - e, de fato, devia estar mesmo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Viagem



Asfalto até onde a vista alcança. Àdiante e para trás, se olhar pelo retrovisor. Se a vista for mais longe e a estrada entortar, eu sei que são só curvas. Vou contorná-las e continuar seguindo o rumo como há de ser sempre. O motor é relativamente potente e deve me permitir chegar aonde pretendo - ou devo - chegar e há combustível o bastante pra isso. Sigamos...

120km/h, quinta marcha. É rápido, de certa forma. Será que rápido o bastante? Será que rápido demais? E esse caminho todo que venho percorrendo? São muitas horas de viagem acumuladas até agora, muitos quilômetros percorridos. Vim pelo caminho certo? Imagino que esteja indo na direção certa, mas não tenho mapa em mãos. Onde eu poderia ter arranjado - ou posso arranjar - um? Se ainda fizesse idéia disso...

Um carro adiante... Vou me aproximando dele devagar. Reduzo pra acompanhar o ritmo dele. Depois da curva eu passo, se tiver reta. Ótimo. Quarta marcha. Ponho do lado e piso fundo. 100km/h, 110km/h, quinta marcha, 120km/h... Pronto. Ficou pra trás. Logo, logo aqueles faróis devem sumir do retrovisor.

E toda essa paisagem em volta? Montanhas enormes, muito verde... Será que está frio lá fora? Não sei se quero abrir as janelas pra descobrir; cá dentro está confortável. Acelerar mais? Diminuir? Perguntar o caminho?

Sigamos...

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Se olharmos os nossos retrovisores, talvez vejamos uma estrada tortuosa atrás de nós. Talvez, também, nada impede, vejamos uma estrada reta e lisa. E o que está por vir? Qual caminho tomar? Para onde ir? O curioso é que nessa estrada que a gente inventou de chamar de "vida" o nosso carro não pára. Não diminui nem acelera. É sempre um ritmo constante e relativamente rápido. Não há muito tempo para escolher que caminho seguir e, na maioria das vezes, não há um "sub-caminho" de volta para uma estrada onde já estivemos.

Sigamos...