segunda-feira, 15 de março de 2010

Sonhar e Sorrir Vol. 10

Eu matei uma assassina - Parte 8
- Você não ficou com medo de ter sido traído?
- Olha... Quando você disse que tinha levado "o cara que sabe demais" eu achei que pudesse ser encrenca. Mas, de todo jeito, eu estaria ganhando tempo.
- É mesmo?
- O cara precisava digerir a informação e castigar a assassina de aluguel incompetente, né? - Eu falei e comecei a rir.
- E se ele não o fizesse.
- Ele faria, com certeza. É o cabeça do grupo. Ele ia querer dar o exemplo a outros capangas.
- Que coisa, Dé. Eu não teria imaginado nunca que ele era o seu amigo.
- Nem eu. Por isso fiquei tão surpreso. O que eu soube é que ele tinha sido morto por alguém da GREVE. Foi absolutamente decepcionante descobrir que ele próprio era o chefe.
- Deu pra ver na sua cara.
- Bom... Agora já acabou. A polícia está cuidando dele. Por falar nisso, não tem risco de virem atrás de você?
- Não. Ele não sabe nada sobre mim. A pistola está limpa, as maçanetas e as torneiras também... No máximo, podem ir ao colégio te perguntar.
- Mas eu não sei de nada! - Eu disse levantando as mãos e olhando para cima. Os dois rimos com a cena.
Estávamos a caminho do meu apartamento. Agora parecia que tudo estava no lugar; Bruno iria para a cadeia, Isabela estava fora de perigo e eu tinha feito o que queria ter feito. Destranquei a porta do apartamento, entramos, fechei a porta e acomodamo-nos. Sem nem perguntar se ela queria, servi dois cálices de vinho, que tomamos largados no sofá da sala.
- Você falou em pistola limpa agora há pouco. - Comecei. - Por que deixou a sua pistola lá?
- Eu não quero mais ver aquela pistola de jeito nenhum.
- Nossa! Por quê?
- Porque foi ele quem me deu aquela pistola. E justamente pra fazer esse tipo de coisa. Foi ótimo atirar nele com ela, mas um tiro já está mais que bom.
- Entendo. E por que não atirou com a minha?
- Eu não queria correr o risco de descobrirem que a bala saiu da sua arma. Não quero encrenca pra você.
- Ah, Bela... Você é...
- Um amor? - Ela perguntou rindo.
- Uma menina. É esperta demais, mas é uma menina.
- Ei! Essa fala é minha!
- Eu sei! Por isso eu disse! - Os dois rimos alto e fomos para o meu quarto com os cálices de vinho. Estiramo-nos na cama e continuamos bebericando devagar.
- Então... Tráfico interrompido, bandido na cadeia... Caso encerrado, né?
- Graças a Deus! Gostei de pegar um bandido, mas ainda acho que gosto mais da sala de aula.
- É mais seguro, né?
- Com certeza. - Suspirei. - Eca... Bandido, tráfico de armas, ameaças... Três das piores coisas do mundo.
- É? E o que seriam três das melhores?
Olhei fundo nos olhos dela, tomei o cálice dela, bebi um gole, coloquei-o no chão e, enquanto respondia, abracei-a e puxei-a para cima de mim.
- Vinho antes e sucrilhos depois...
- Uau!
Depois de duas longas e deliciosas horas ela respirou fundo e perguntou:
- Agora eu posso ir para casa, né?
- É... Pode... Ele não vai mais te atormentar.
- Que maravilha! Adorei ficar aqui com você, mas poder voltar pra casa é sempre um alívio.
- É, não é?
Ela me deu um beijo longo, levantou-se e vestiu-se sem pressa. Vesti apenas um jeans e segui-a até a sala. Ela pegou a bolsa e foi para a porta, que eu abri para ela.
- Eu vou poder te ver de novo? - Ela perguntou.
- Sempre que quiser. - Respondi sorrindo.
- Ah! Que bom.
- Já tem meu telefone, meu endereço... Vai ser fácil.
- E o que você vai fazer amanhã?
- Bom... Amanhã é feriado. Não planejei nada. Acordar tarde, ficar à toa... E você? O que vai fazer amanhã?
- Ah... Eu... Acho que também vou acordar tarde e ficar à toa... Afinal, amanhã é feriado... - Ela me abraçou e beijou longamente enquanto fechava a porta com o pé.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sonhar e Sorrir Vol. 9


Aviso: esta publicação é imprópria para menores de 16 anos, contendo cena de sexo, violência e palavras de baixo calão. Se você tem menos de 16 anos ou não gosta do que pode haver aqui, acho melhor sair do blog por agora. Se você tem, pelo menos 16 anos, e quer mesmo saber do que se trata, divirta-se! =P
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Eu matei uma assassina - Parte 7

- A que horas você pretende ir visitar o nosso amigo, Dé?
- Umas seis, seis e pouco.
- Algum motivo especial?
- Na verdade, não. Quero esperar até perto de anoitecer, mas não quero que seja muito tarde. Preciso trabalhar amanhã de manhã.
- Ué... Vai trabalhar no feriado?
- Mas ama... - Parei um instante. - É verdade... Amanhã é feriado. Então nesse caso, só não quero chegar tarde da rua.

Eu estava lavando a louça do almoço quando tivemos essa conversa. Não tínhamos feito muita coisa até aquela hora; uma noite longa pode não cansar muito, mas duas noites longas seguidas fazem qualquer um levantar tarde. Acordamos perto de meio-dia, encomendei uma pizza, almoçamos e fui lavar a louça.

- A que horas devo estar pronta?
- Pronta pra quê, mocinha? - Perguntei sorrindo.
- Para irmos.
- Ehr... - Hesitei. - Eu prefiro que você não vá.
- Por quê?!
- Eu não quero te sujeitar a nada do que pode acontecer lá.
- Não acha que eu também tenho direito a acertar umas contas com ele?

Terminei de enxaguar o último prato, fechei a torneira, pus o prato no escorredor e, enquanto enxugava as mãos, virei para ela e disse:

- Eu acho. Mas esse cara já matou um amigo meu e eu não sei se ele costuma perdoar um erro de alguém que ele paga.

Ela fez que ia dizer alguma coisa, mas desistiu a meio caminho. Abaixou um pouco a cabeça, olhou de novo para mim, abraçou-me e disse com a voz fraca:

- Eu vou também, tá?
- Não, Bela. - Envolvi-a com os meus braços também. - Prefiro que você...
- Escuta aqui uma coisa. - Ela olhou fundo nos meus olhos e disse num tom de voz firme. - Eu sei que pode ser perigoso e queo perigo inclui, por exemplo, morte, seu menino. - O tom de voz tornou-se mais suave. - Mas eu também tenho o que descontar, eu também gosto de você e eu também não gosto nem um pouco da ideia de não poder te ver de novo.
- Ai, Bela... - Suspirei. Eu queria falar alguma coisa, mas não me veio nada à cabeça.
- Eu acho que eu posso ajudar em alguma coisa. De repente, se ele não estiver em casa, posso abrir a porta pra você.
- Aiai... - Suspirei de novo. - Tá bom. Você venceu. Mas com uma condição.
- Qual?
- Vamos fazer tudo em comum acordo. A menos que o outro esteja em perigo, não vamos fazer nada que seja precipitado.
- De acordo. - Ela falou e beijou longamente a minha boca.
- Quer dizer, então, que a lourinha não gosta da ideia de não me ver de novo?
- Perguntei como se quisesse fazer graça do que ela disse. Fiz algumas pequenas pausas para beijar-lhe a boca.
- Nem um pouco - Ela disse e beijou-me de novo.
- Não mesmo?
- Detesto. Eu, na verdade, já não gosto da ideia de não te ver sempre que eu quiser.
- É sério isso?
- Seriíssimo.
- Nossa... E agora?
- Agora está cedo. Faltam umas quatro horas pro sol começar a se pôr.

Ri baixinho. Eu esperava outra resposta, mas adorei aquela.

- Eu perguntei sobre a nossa situação, menina, não sobre esse exato minuto.
- Ah, eu sei.
- Eu sei que você sabe. - Continuávamos fazendo pequenas pausas para trocar beijos. - E então?
- Então eu acho que a solução é eu continuar aparecendo de vez em quando pra te ver.
- Só de vez em quando?
- É. Não quero correr o risco de você ficar enjoado de mim. - Ela disse, agarrou-me com força, beijou-me vorazmente e continuou. - Mas esse "agora" é a nossa situação. "Agora" agora...

Falamos entre beijos e ela pôs um delicioso fim na conversa. Fim esse em que já estávamos respirando forte. Por falta de espaço não aconteceu nada dento da cozinha, mas o resto da casa estava livre. A química entre nós era tão forte que, como percebíamos aos poucos, às vezes nós simplesmente não resistíamos. Senti vontade de tomar outro cálice de vinho e abandonar-me aos caprichos dela, mas queria ter certeza de que estaria bem para fazer o que eu ia fazer mais tarde. Não foi nem um pouco ruim, na verdade. O vinho dava um gostinho de fantasia à coisa toda, mas tudo parecia mais selvagem sem ele.
Fomos parar no sofá da sala; eu sentado nele e ela sentada no meu colo, de frente para mim. Os beijos continuavam vorazes desde que ela encerrou a nossa conversa e, num instante, eu já estava sem a minha camiseta, que ela jogara para trás. Ao mesmo tempo em que eu achava uma delícia, estava começando a achar graça da facilidade com que íamos parar em momentos como aquele. Ao ver que ela estava tirando a blusa, não resisti e perguntei:

- Você não cansa, mocinha?
- Nem você, pelo visto. - Ela respondeu sorrindo.
- Não. Até agora, não.
- Ótimo! Não fico mal disposta quando acordo tarde e temos muitas calorias da pizza pra queimar.

Adorei a resposta dela. Alguns minutos depois, estávamos os dos sem qualquer peça de roupa e onde estávamos ficamos por, pelo menos, uma boa hora - até resolvermos que a cama era bem mais confortável que o sofá para esse tipo de coisa. Meu Deus! Como o tempo passava rápido com ela! Não sei se porque eu não tinha vontade de ver as horas - e, mesmo que tivesse, ela não deixaria - ou se porque o tempo realmente passava mais rápido quando estávamos juntos, mas passava muito mais rápido. Depois que acabamos, suados e ofegantes, tomamos um banho e deitamo-nos de novo para descansarmos um pouco. Conversamos sobre assuntos sem importância e rimos bastante. Quando resolvemos descobrir que horas eram, o céu já estava alaranjado e um pequeno pedaço do sol já tinha desaparecido.

- Perfeito! - Falei ao ver como o céu estava. - Não poderia ter sido melhor!
- A hora está boa assim?
- Bom... - Fui para perto dela, abracei-a e olhei-a nos olhos. - Poderia ser melhor, se eu não tivesse alguma coisa pra fazer agora, no fim do dia. Mas, se eu não tivesse o que fazer, provavelmente você não teria vindo atrás de mim e eu não teria te conhecido.
- Ai, menino... É gentileza demais.
- Estou falando sério! Se bem que a ideia de ter te conhecido "de graça" me soa muito bem. Mas gostei muito de como nos conhecemos.
- Eu também, embora eu pudesse ter sido muito mais gentil. Vamos nos arrumar?
- Vamos.

Para ela não foi muito difícil, já que não tinha muda de roupa quando chegou na minha casa. Também não foi difícil para mim: pus uma calça jeans, uma camisa e um par de tênis. Enquanto ela terminava de aprontar-se, desci até o meu carro no térreo e peguei a pistola que estava no portaluvas. Quando voltei ao apartamento, ela estava procurando alguma coisa nos armários da sala. Imaginando que ela estava procurando a pistola dela, estendi a minha para ela:

- Você pode usar esta hoje.
- Mas é presente do seu irmão.
- Não tem problema. Ou você quer outra?
- Quantas você tem?!
- Duas.
- Então... Você é um professor mesmo ou o quê?

Comecei a rir:

- Sou professor, sim. Não um policial, não um matador de aluguel, nada disso. Mas tenho duas armas.
- Então tá. E a minha?
- A que me deu de presente ontem?
- Como assim...? - Ela ia contestar o que eu disse, mas parecia ter lembrado o que aconteceu no dia anterior. - É verdade. Eu tinha desistido de procurar. Tá bom. Eu aceito usar a sua hoje.
- Se necessário. - Puxei a arma na minha direção antes que ela pudesse alcançá-la.
- Se necessário, tudo bem. - Entreguei a ela. - Mas e a que era minha? Onde está?

Ela perguntou e eu me dirigi à cozinha. Servi um copo d'água e, enquanto oferecia a ela, abri a tampa da máquina de lavar louça e de lá tirei a pistola.

- Eu não acredito nisso! - Ela disse, indignada. - Ela estava mesmo dentro da máquina de lavar louça?!
- Uai... Eu disse a você ontem que ela estava aqui.
- Então estava falando sério?
- Eu estava. Não te disse que tinha mudado de ideia sobre achar que você ia me matar?
- Disse.
- Então? Não tinha por que mentir pra você.
- Aiaiai... Você é um menino. É muito esperto, mas é um menino.
- Um menino que sabe onde esconder as coisas. - Eu disse e ri. Ela bebeu a água, servi mais um copo para mim, bebi e saímos.

Como ele morava na mesma quadra onde eu morava, fomos a pé mesmo. Eu não sabia se ele estaria em casa, se estaria sozinho, se estaria armado... Simplesmente ia até lá e fazer o que tinha de ser feito, o que quer que isso fosse. Andamos tranquilamente até o prédio onde ele morava, paramos um pouco no estacionamento e:

- Vamos fazer assim, Bela: vamos esperar até que um carro entre na garagem e eu vou a pé atrás dele. Como esse prédio não tem câmeras de vigilância, não vou ser visto pela segurança. Quando isso acontecer, você vai até a guarita, interfona para o apartamento dele e pede para subir.
- Espera! Eu vou ser a isca?!
- Não. Isca, não; chave. Eu só preciso que você descubra se ele está no apartamento.
- E se ele estiver?
- Se ele estiver, você entra na pela portaria normalmente e me avisa. Pode ligar no celular pra isso. Se ele não estiver, esperamos até um outro carro entrar na garagem e você entra a pé atrás dele também. Ou eu posso abrir uma porta dos fundos na portaria pra você entrar sem ser vista.
- Tá bom. Eu espero que você saiba bem direitinho o que você está fazendo, seu menino.
- Eu sei. - Ou achava que sabia.

Não demorou nem dois minutos até aparecer um carro para entrar na garagem. Enquanto eu entrava, Isabela foi até a guarita. Dois minutos depois o meu celular tocou.

- Oi, Bela.
- Ele não está.
- Ótimo! Não podia ser melhor!
- Está na garagem?
- Estou. Vai para a parte dos fundos da portaria, que eu abro pra você.
- Eu já entrei.
- Ah, sua danada! Estou subindo.

Subi para o térreo pelas escadas e subimos juntos para o sexto andar pelo elevador. Ao chegar lá ela tirou dois clipes de papel de dentro do bolso da jaqueta e ia colocá-los dentro da fechadura da porta. Colocou o primeiro e, antes de colocar o segundo, torci a maçaneta e a porta se abriu.

- Você... - Ela falou sem saber direito o que dizer.
- Eu te disse que não ia ser difícil.

Entramos e fechamos a porta em silêncio. Alguns segundos depois, escutamos uma voz dentro da casa. Ela sussurrou assustada para mim:

- Mas não tinha ninguém em casa!
- Ou ele simplesmente não atendeu.
- Mas por que ele não atenderia?
- Talvez porque não quisesse.

Ouvimos a descarga num banheiro.

- Ou talvez porque estivesse no banheiro. - Continuei. - Sai do apartamento.
- Mas...
- Rápido. - Ouvi o barulho de água na pia do banheiro. - Bate a porta quando sair e entra de novo pelos fundos. Vamos pegá-lo de surpresa. Corre!

Eu me escondi atrás da cortina que tampava a porta da varanda e ela saiu do apartamento batendo a porta. Ele perguntou:

- Quem está aí? - Ninguém respondeu e ele insistiu. - Quem está aí?!

Nada. Pelos ruídos, imaginei que ele estivesse indo para algum quarto, provavelmente para pegar uma arma. Continuei imóvel atrás da cortina. Ele voltou para a sala a passos tranquilos e perguntou antes de abrir a porta da frente:

- É você, sua vadia?!

"Ele não pode estar falando dela. Não pode falar dela assim!" Tive um estalo: aquela voz não me era estranha. Nem de jeito nenhum. Na verdade, parecia a voz de alguém que eu conhecia há tempo. Mas quem?! "Tomara que ela já tenha entrado pela cozinha." Ouvi o som da porta dos fundos sendo fechada. "Ai! Tomara que ele não tenha ouvido isso, ou ela está bem encrencada. Pensa, André! Pensa!"

Infelizmente ele ouviu a porta dos fundos, mas parecia ter ficado sem saber o que fazer. Depois de hesitar um pouco, saiu pela porta da frente em silêncio e fechou a porta também em silêncio. Segundos depois, Isabela entrou na sala pela porta da cozinha. Logo que eu a vi, saí de trás da cortina e ia avisá-la para esconder-se, mas já era tarde: ele aparecera também pela porta da cozinha e a surpreendeu. Quando dei por conta, ele a estava segurando pelo cabelo, bem perto do couro cabeludo, e apontando a arma para ela.

- O que é que vocês dois estão fazendo aqui?! - Ele perguntou, furioso.
- Eu trouxe o cara que sabe demais! "Como ela me entrega assim?! Deve ter uma carta na manga. Pelo amor de Deus, que ela tenha uma carta na manga."
- Então é você o tal cara?
- É, sou eu o tal cara. - Eu parecia só um estranho até aquele momento. Acho que eu estava sendo visto apenas como um cara que sabia o que ele fazia, mas isso até falar que eu era o tal cara.
- André?!
- O próprio.

Ele riu quase descontroladamente, mas não deixou de segurar Isabela com força ou de apontar a arma para mim.

- Eu não acredito nisso, Andrezão!
- O que quer dizer com "Andrezão"?! - Isabela perguntou, intrigada.
- Esse cara... - Eu tentei responder. - Você por acaso se lembra do meu amigo que ele tentou matar?
- Lembro.
- É ele.
- Como assim?! - Ela perguntou de novo.
- É ele. É o Bruno.
- Que surpresa, Andrezão.
- Pois é. E que surpresa mais desagradável. Eu achei que alguém tinha mandado te matar. E, sinceramente, não estou feliz em te ver vivo na posição em que você estar.
- Oh, que pena! - Ele responder num tom gozador. - Que peninha. O seu amigo virou um traficante de armas poderoso e se fez passar por morto pra você.
- Obrigado por recapitular. Pode, agora, me dizer por quê? - Senti muito não ter saído de trás da cortina com a arma na mão. Estava presa nas minhas costas pelo jeans.
- Por quê?! Conhece maneira mais fácil de fazer dinheiro do que aceitando uma oferta irrecusável?
- Sei... Conheço essa história de ofertas irrecusáveis. Um cara põe uma arma na sua cabeça e manda você fazer o que ele quer em troca da sua vida.
- Você é esperto, mas não foi bem isso. Quando eu não tinha nada, tudo o que eu precisava fazer era vender umas armas. Com o tempo eu fui perceber no que eu tinha me metido. Só que a grana é alta. Muito alta.
- Ahn... E com uma grana alta dessas você veio parar num apartamentinho ridículo de três quartos na minha quadra?
- Mas é claro! Algo que eu sou e você nunca será é discreto. Enquanto não posso me mandar daqui como eu quero, ando num carro popular, moro num apartamento numa quadra de classe média na capital... E você desfila por aí num esportivo amarelo. Ridículo.
- Um esportivo amarelo que comprei com um dinheiro que é honestamente meu.
- Sei... E você se importa com isso?
- Finjamos que não. Eu vou fazer, então uma proposta irrecusável: você deixa a modelo ir e faz comigo o que quiser fazer.
- Ah, não. Não tenho a intenção de deixá-la sair viva daqui. Ela tinha uma missão muito simples a cumprir e não a cumpriu.
- Como não? Eu estou aqui. E vivo.
- Eu não quero você vivo. Essa é a questão. Mas já que está vivo, pode me dizer se tem mais alguém que sabe alguma coisa sobre mim e a minha equipe enquanto eu dou cabo dessa vagabunda. - Num movimento mais rápido do que ela pôde administrar, ele tirou a pistola que estava presa na parte de trás do jeans dela e jogou-a contra a parede. Isabela bateu a cabeça e caiu no chão atordoada. Ele mantinha uma pistola apontada para mim e a que tomou dela, apontou para ela.
- Eu trouxe o cara pra você! Não pode me matar! - Ela disse, ainda atordoada.
- Eu disse para matá-lo na quarta-feira e dei a sexta como prazo final, sua vagabunda! - "Graças a Deus ela enrolou o cara um tempinho!" - Como não consegue se livrar de um professorzinho de segundo grau?! Não passa de uma vagabunda imprestável! Olhe pra mim! Quero ver a sua carinha de pânico antes de matá-la!

"Graças a Deus ele está bem concentrado nela!" Num movimento ainda mais rápido que o dele, saltei e, ao mesmo tempo em que, com a mão, desviei a arma que ele apontava para mim, golpeei-o no rosto com um chute que o fez cambalear. Como ainda estava sem reação, desferi-lhe outros três chutes: um na boca do estômago, outro de baixo para cima no rosto e outro de lado, também no rosto. Entre os golpes que levou, ele deixou cair uma das armas. Ele estava caído no chão e a cabeça, mal encostada na parede. Ele estava torto como um boneco de pano que tivesse sido largado ali. Aproveitando que ele estava sem reação, agarrei-o pelo colarinho e o suspendi até que ficasse em pé:

- Ela não é nenhuma vagabunda, seu miserável! - Furioso, desferi-lhe um soco na boca em linha reta, que o fez cair e largar a arma que estava na outra mão.

Caído no chão e desnorteado pelos golpes, ele tentou pegar de novo a sua arma, mas, antes mesmo que eu batesse de novo, Isabela tirou a arma que estava presa nas minhas costas pelo jeans e deu um tiro em sua perna. Ele começou a gritar, mas um chute de Isabela em seu rosto o fez diminuir o escândalo. Ela ficou em pé perto dele e apontou a arma para o seu rosto.

- Vagabunda é a puta que te pariu, seu verme! - Ela falou e deu-lhe outro chute no rosto. - Não sei por que ainda não puxei o gatilho pra uma bala furar a sua testa, seu miserável!
- Do que está falando?! Eu te dei uma oportunidade de fazer dinheiro rápido! - Ele disse entre engasgos.
- É fácil oferecer dinheiro com uma arma na cabeça da pessoa que você quer pegar, não é? Se eu te oferecesse um dinheiro e uma bala, o que você aceitaria?
- O que você acha?

Ela o chutou de novo. Achei que tivesse quebrado o nariz dele dessa vez.

- O que eu acho é que eu deveria ter te matado quando colocou essa maldita arma na minha mão! O que eu acho, é que tem uma bala na sua perna, oito no pente e que deveria haver quatro na sua cabeça, três no seu peito e uma no seu...

Ela ficou tão furiosa e descontrolada que começou a chorar. Acho que, pra uma modelo, já foi demais atirar na perna de um homem, mesmo ele significando risco de morte. Afastou-se um pouco e abaixou a arma. Ele tentou pegar a arma que tinha deixado cair por último pelo silenciador. Ao ver isso, pisei em sua mão logo que agarrou o silenciador, chutei a arma para longe dele e apliquei uma chave de braço que rendeu um estalo e um grito de dor.

- Você nunca mais vai atirar em ninguém, seu maldito! - Eu disse a ele num tom de voz ainda irritado.
- Andrezão... Você... - Calei sua boca com um murro no nariz. Se não tinha quebrado com o chute de Isabela, quebrou com a minha mão.
- Não me chama de Andrezão outra vez, se não quiser que eu quebre o seu outro braço, desgraçado!

Continuei ajoelhado ao lado dele e segurando-o pelo colarinho enquanto Isabela foi fazer alguma coisa pela casa. Eu não sabia se queria bater mais, se queria matá-lo, se queria torturá-lo pelo que fez comigo e com Isabela... Isabela voltou usando luvas de couro e com a arma na mão.

- O que fez?
- Lavei a arma.
- Pra quê?!
- Pra não deixar as minhas digitais nela. - Ela disse e, logo depois, fez-me soltar o colarinho de Bruno e, com a mesma chave de braço que eu usei, ela quebrou o outro braço e, para que ele não gritasse tanto, chutou sua boca de novo. Enquanto ele grunhia de dor, ela posicionou a arma na mão dele como que para pegar as digitais e a largou no chão da sala, longe do alcance dele.
- Vamos embora, Dé. Já chamei a polícia e eles não devem demorar a chegar.
- Já?!
- Vamos logo.
- Eu vou processá-los por lesão corporal, seus malditos.
- Legítima defesa, Sr. GREVE. - Ela retrucou.
- Acredita mesmo nisso? Com uma bala na perna e os dois braços quebrados?
- Com um braço só você pode manusear uma arma. - Eu respondi. - E outra... Não sei se vão dar atenção a um traficante de armas de segunda categoria.
- Adeusinho. - Isabela disse.
- Eles vão achá-los!
- É mesmo? Com que digitais? As maçanetas das portas estão limpas. Divirta-se na cadeia. - Ela disse.
- E arruma um bom plano de saúde. Você sabe como são os hospitais públicos.
- Eu vou matá-los, entenderam?! Eu vou matá-los!

Voltei, segurei-o pelo colarinho de novo e disse:

- Sabe por que não te matei, seu maldito? Porque você já morreu! Se você não morreu porque mandaram te matar, morreu porque o meu grande amigo jamais seria um traficante de armas.
- A carona dele já está chegando, Dé. Não queremos responder nenhuma pergunta.

Saímos pela porta da frente e ela a fechou, segurando a maçaneta com a luva de couro.