quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"Mas foi só uma galinha..."

Assim como provavelmente a maioria de vocês, eu soube recentemente do, vamos dizer assim, espantoso episódio da galinha voadora num colégio da asa norte. E claro que, como a maioria das pessoas, assim que soube com detalhes do episódio, tirei as minhas conclusões. Nada mais justo que dividi-las com vocês, meus caros leitores.

Pra quem não sabe do episódio, é muito simples: num determinado colégio aqui em Brasília, na asa norte, um aluno apareceu com uma galinha - é meio inusitado, eu concordo. Esse sujeitinho e/ou seus colegas resolveram tirar a galinha de dentro da caixa onde ela estava e "brincar" com ela. Coisas como assustar, trancar num lugar com pessoas que, provavelmente, vão se assustar - e, consequentemente, assustar o pobre do animal... Essas coisas nada saudáveis que fazem a alegria de um adolescente de vez em quando.

O orientador disciplinar - que eu já tive a oportunidade de conhecer e, a julgar pela descrição dada por outro funcionário do colégio, que disse que "vê se os meninos estão dentro das salas de aula, se estão de uniforme...", enquadra-se perfeitamente no trabalho de um bedel - , ao ver a cena, decidiu simplesmente livrar-se da galinha. Pra surpresa da maioria, pegou o animal pelas asas e pelas patas e atirou-a para o outro lado do muro da escola.

Vamos parar um instante. Primeiro: por que diabos um adolescente levaria uma GALINHA pra escola? Quer dizer... É claro que o orientador disciplinar fez o que fez e não foi nada bonito, mas não tiremos do menino a parcela da história que cabe a ele. Vamos concordar que nada disso teria acontecido se ele não tivesse se aventurado a levar uma galinha - em vez de um brinquedo ou um instrumento musical - pro colégio.

Como se não bastasse o fato, ainda tem gente que defende o orientador disciplinar dessa escola. Que não é justo culpá-lo por isso e por aquilo. Não?! Não é justo?! Tá... Pergunta clássica do blog: e quando é com pessoas?

É claro que não foi nada demais. Afinal de contas, foi uma galinha que ele jogou por cima do muro. Mas e se fosse o cachorro de estimação de uma dessas pessoas que estão defendendo esse personagem da história? E se o orientador disciplinar tivesse jogado por cima do muro o seu yorkshire terrier ou o seu maltês? Eu tenho certeza mais que absoluta de que não seria "nada demais". Seria, né? Eu sabia que concordaríamos em algum ponto.

O próximo passo - e o mais importante de todos - são as lições que esse sujeito ensinou aos adolescentes ao jogar o animal por cima do muro. Pra começo de conversa, que "problema dos outros a gente joga por cima do muro". Que tal? E que tal "você não precisa se importar se é um bicho de estimação de outra pessoa, contanto que você se livre do problema"? E que tal ainda "vale tudo pra manter a disciplina na escola"?

O que um sujeito desse não lembra é que quanto mais alto o cargo que a gente exerce, maior a responsabilidade que a gente tem. Quanto mais alta a posição, mais pessoas ouvem o que a gente diz e veem o que a gente faz. O que esse cara não lembra é que NINGUÉM tem o direito de fazer o que ele fez e, muito menos, um ORIENTADOR DISCIPLINAR, que deveria manter a disciplina e, muito antes disso, dar o exemplo aos alunos da escola em que trabalha e a todos os outros.

E o que eu acho que ninguém pensa é que as pessoas que acham graça de um episódio como esse e/ou as que defendem pessoas como o nosso personagem em questão são o mesmo tipo que queima índio, espanca garçom em bar na praia, estupra criança no parque e outras coisas horrendas que as pessoas têm mania de achar que quem faz é quem não tem discernimento.

Não têm, mesmo, mas frequentam escolas particulares e tudo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Incerteza

Hoje eu chorei. Não que isso seja uma novidade na vida das pessoas ou na minha, mas eu chorei como eu não sei se as pessoas normalmente fazem quando passam por certas coisas.

Uma fase maldita na vida de uma pessoa é a tal de estudar pra concurso público. Tem gente que já sai da escola pensando nela e preparando-se pra ela desde cedo. Já entra numa faculdade de direito como uma forma de adiantar algumas matérias necessárias pra ser aprovado e tudo mais. Há outras pessoas, eu diria que menos sortudas, que acabam caindo na fase do concurso público por não ter outra opção.

Uma pessoa que escolhe cursos como medicina, direito ou arquitetura sai da faculdade com emprego na maioria das vezes - ou com uma boa perspectiva. Já sabe o que vai fazer da vida, já sabe que tem mercado pra ela e, normalmente, já sabe que tudo pode dar certo. O fato é que algumas pessoas escolhem profissões "erradas", ou seja, aquelas que, por algum motivo, não têm perspectiva boa de crescimento. Como é o caso do professor, que a gente bem sabe o que passa.

"Tudo bem. Passar num concurso não deve ser tão difícil assim." E a gente se anima, se programa pra estudar tantas horas por dia, tantas matérias e estar preparado pra aquela prova que pode resolver a nossa vida em definitivo - quer dizer, considerando que o serviço público dê mesmo a segurança e a estabilidade com as quais todo mundo sonha. E há dias em que a gente se sente ótimo. A gente sente que está aprendendo, que está cada dia melhor, que o ritmo de estudo está bom e que a aprovação está cada vez mais perto.

E há dias em que a gente não sabe se dá conta ou acha que não dá. De repente, tem uma pilha de livros abertos em cima da mesa, bem na frente dos seus olhos. Você sabe que está estudando várias horas por dia até porque ninguém diz que é pouco. E você estuda, e estuda e vê aquela pilha de livros na sua frente, um edital com um monte de matérias que você não sabe se vai dar conta de aprender a tempo e aí é que fica legal: bate aquele medo horrível de não passar, de não dar conta. E depois? E se não passar?

Mas por que eu chorei hoje? Parece bobo, mas eu vi o meu gato. Só isso. Um felinozinho bem deitado numa cama, enrolado num cobertor, dormindo igual a um anjo. E pense: "Que vida mansa. Ele tem uma casa onde morar, pessoas que o amame o alimentam... e pronto. Vai ter isso pro resto da vida." Soma-se isso ao medo de não passar num bom concurso público, causado por uma pilha de livros abertos e um dia em que a cabeça parece não funcionar direito e pronto: um humano que acha que gostaria de ter uma vida como a do seu bicho de estimação por pensar que deve ser muito mais tranquila.

É normal?