terça-feira, 28 de maio de 2013

Desapego

Essa é uma palavra que já soa meio dura. Só o prefixozinho "des" em qualquer palavra já dá uma noção de contrariedade que nem sempre chega leve aos nossos ouvidos - ou olhos.

Desapegar-se não costuma ser tarefa fácil, ainda que seja de pequenas coisas. Imagina aquele bichinho de pelúcia que você tinha desde quando era criança. Já não é muito fácil se desfazer dele, certo? Qualquer abestado diria: "É só um bicho de pelúcia. E você nem usa mais". Mas, como eu falei, é um abestado.

Aquilo não é só o seu bichinho de pelúcia. Tampouco só o seu bichinho de pelúcia preferido. Se fosse simples assim, primeiro, os seus pais comprariam outros pra você com alguma frequência - e isso não acontece. E, segundo, você não precisaria que alguém dissesse "tá na hora de se desfazer disso, né?". Só que aquele bichinho de pelúcia é especial porque ele enfeitou uma prateleira do seu quarto durante muito tempo. Aliás, bem provável que ele tenha enfeitado a sua cama. E quantas noites você dormiu abraçado(a) com ele? E quantas vezes você já pediu pra sua mãe costurar o focinho, o braço ou a orelha? Não, definitivamente não é "só um bicho de pelúcia que você não usa mais".

Não vou me cansar nunca de perguntar isso: e quando é com pessoas?

Aí, minha cara leitora e meu caro leitor, é que não é fácil mesmo. Ou não costuma ser. Nesses meus quase vinte e sete anos, vendo pessoas virem e irem, andei aprendendo algumas coisas sobre o desapego.

Acho que a mais relevante - ou uma das mais - é que, quando você tem um motivo pra se desapegar, é ridiculamente fácil. Oquei, talvez eu tenha me expressado errado. Por exemplo... Quando você descobre que aquele vadio te traiu, você termina o namoro puta de raiva e rapidinho arranca o peste da cabeça. Não? Bom... Pra mim funciona assim - mas com a devida transposição pro feminino, por favor.

Bem pelo contrário... E quando é aquela amiga que, por algum motivo que ninguém na vida consegue explicar, você "ama de paixão"? Faz um tempaço que ela não te liga, quando é você quem liga, ela atende rapidinho e nunca pode falar, não retorna suas ligações, não responde mensagem de celular nem e-mail, mas ainda assim você adora a peça? Desapego fica complicado... Você faz - quando faz - a contragosto. Você faz porque, em algum momento, percebe que não tem espaço na vida daquela pessoa, mas ainda tem uma coisa torta no peito que te diz "Nããããão! Não esquece, não! Continua ligando". Uma bela maldição...

E ainda tem aqueles casos - tortíssimos, na minha opinião - em que o desapego é meio forçado. Do tipo "dar um tempo". Eu sempre tive na minha cabeça que "dar um tempo" só serve pra duas coisas: pra alguém aparecer com chifre ou pra adiar um fim inevitável. E, nesse segundo caso, ao menos quando o sujeito já está calejado, ele já vai se preparando psicologicamente pro "golpe de misericórdia" - que, muitas vezes, não é muito misericordioso. Já vai se acostumando a não ouvir o telefone tocar, a não programar um fim de semana assim ou assado e, às vezes, à ideia de devolver umas coisas que estão no quarto.

Claro que algo tão penoso e complicado de se fazer tinha de ter uma compensação - afinal de contas, a, por vezes, aguda e longa dor do desapego não podia ser só uma dor gratuita. Depois do preparo psicológico prévio pro golpe de misericórdia ou do simples exercício do desapego, a sensação acaba sendo boa. Você se sente...

Desapegado.

Um comentário:

Luiza Callafange disse...

Poxa, mas eu sou tão apegada à tudo >< haha! Pra mim desapegar de pessoas é muito mais difícil do que de objetos, todas as pessoas que passaram ou ficaram pela minha vida têm algum significado, e por mais que eu tenha que ser forçada a esquecê-las eu carrego dentro de mim a gratidão e o carinho de um dia poder ter compartilhado alguma coisa! Dói um pouquinho mas é uma maneira melhor que eu encontro de me conformar... ^^"