quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Pra começar bem...

E por que não começar o ano falando de Letras e afins? Afinal de contas, não é essa a minha área de trabalho e estudo? Acho que, de vez em quando, esse tipo de assunto num blog é bem-vindo - será que eu usei direito esse hífen?
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O novo acordo ortográfico - opinião pessoal
Eis um assunto que há tempos eu penso em colocar em discussão aqui no Answerless. Um assunto que, diga-se de passagem, tem-me dado dor de cabeça desde que tomei conhecimento - e isso já faz um bom tempo. Qual é a opinião de vocês, leitores, a respeito desse novo acordo ortográfico?
Tenho salvo no meu computador um endereço eletrônico que traz, descritas e explicadas, as novas regras de ortografia da língua portuguesa. Depois de, finalmente, aceitar que as mudanças já foram feitas, aprovadas, que já estão em vigor e depois de ler e reler aquele troço sei lá quantas vezes eu me pergunto: pa-ra-quê?
Peço desculpas antecipadas por escrever "à moda antiga" daqui até o fim da postagem. Logo vocês entenderão por que.
Comecemos pelo hífen. Finalmente o uso desse tracinho enjoado ficou mais simples. Na minha cabecinha de vento as regras para o uso do hífen ganharam mais lógica. Contudo, devo dizer que foi a única mudança que achei positiva - entre as tantas feitas na nossa bela língua. Atentemos agora para os "podres".
Por exemplo: o que passa pela cabeça de uma pessoa quando pensa em sumir com o acento de metade das paroxítonas e com acentos diferenciais? Pelo amor de Cristo! Não! Se "tem" e "têm" continuam diferentes na escrita e as pessoas sabem que o primeiro é singular e o segundo é plural, por que diabos sumir com o acento diferencial de "pára"? Não é ele, afinal de contas, que diferencia uma preposição de um verbo? Qual é, exatamente a utilidade disso?
Outro exemplo: por que tirar o acento de palavras como "paranoia"? Não é paranóia demais? Seguindo a mesma mecânica que faz com que uma poça seja uma "pôça" e não uma "póça", daqui a não muitos anos a nossa paranóia vai virar paranôia.
Quem quiser discordar - com ou sem motivo - , que discorde. Não tem problema. Mas há mais para discutir. Uma mudança de derrubar o queixo: o sumiço do trema. Tudo bem, tudo bem. Perdi as contas de quantas pessoas já ouvi falar que acham um saco colocar aqueles dois pontinhos nojentos em cima do "u". Contudo, a maioria delas acha um saco ter de colocar acento em um monte de palavras. Só que - pelo amor de Deus! - ninguém dessas pessoas já pensou que, fatalmente, daqui duas ou três gerações, calculo eu - leiam como leriam até 31/12/2008, por favor - , a lingüiça vai virar linguiça, ninguém mais vai freqüentar lugar nenhum - e sim frequentar - e muitas pessoas não aguentarão muitas coisas que enfrentam no seu dia-a-dia?
Certo, certo. Vá lá. Regras são regras e elas foram feitas para ser seguidas. Uns acentos a menos, uns tremas a menos, uns hífens mais assim e menos assado... Mas a mudança "suprema", aquela que não cabe na minha cabecinha, aquela que não me desce pela goela nem que empurrem, é a adoção de K, W e Y no nosso alfabeto.
Ai...
Para quê? Pergunto a vocês, leitores, e a mim mesmo: pa-ra-que, meu Deus do céu? Como professor de português, corretor de imóveis - que está sempre no meio de pessoas que usam palavras difíceis da administração, do direito e de outros ramos - e como - claro! - um rapaz de vinte e dois anos de idade, eu já não agüentava - quer dizer, já não aguentava - ouvir certas coisas. Quando me disseram, certa vez, que eu poderia fazer um leasing para comprar um carro novo, quase tive um enfarto. Leasing não quer dizer financiamento? Mais ou menos. Uma vez uma amiga minha disse que leasing quer dizer arrendamento mercantil de não sei das quantas - era um nome muito comprido e eu não lembro agora. Mas ainda que seja um arrendamento mercantil de patati caixa de fósforo, pra que diabos usar uma palavra que nada tem a ver com as nossas origens?
Outra situação. Um amigo foi para uma entrevista de emprego e me contou que o possível futuro chefe gostou muito dele e disse que pelo seu know how... Pára! Quer dizer, para! Não era muito melhor - e muito mais bonito - dizer que "... pelo seu conhecimento..."? Eu confesso que só não vou tocar em shopping porque eu, no momento, não sei como substituir essa palavra por uma que seja puramente portuguesa. Mas continuo achando que, para toda palavra, expressão ou termo que usemos em inglês, francês ou qualquer outra língua, existe uma palavra, expressão ou termo equivalente no portugês.
Eu, caríssimos leitores, detestei a tal reforma ortográfica. Ressalto, mais uma vez, que todo esse texto é apenas uma opinião pessoal. Não quero que ninguém se ofenda com as minhas palavras aqui. Mas ainda há mais um ponto em que tocar.
Na primeira vez em que ouvi a respeito de reforma da língua portuguesa, acordo ortográfico, coisa e tal, o argumento era que isso serviria para unificar a língua de todos os países falantes de português. E eu torno a perguntar: pa-ra-quê?
Eu já quase fui esbofeteado em certas discussões sobre povos, culturas, línguas e afins. E tais - quase - bofetadas vieram seguidas de "língua é cultura", "cultura é feita de língua", "a língua de um povo é a sua identidade e ela faz dele um povo único". E agora eu me pergunto: cadê esse pessoal que fala essas coisas? Não tinha ninguém que pensasse dessa forma em meio às pessoas que aprovariam ou não o novo acordo ortográfico? Nunca na vida discordei de que língua é cultura e identidade. Jamais. Muito pelo contrário, concordo plenamente com essa idéia - quer dizer, ideia. Na verdade, é um fato e não só uma ideia. Agora que todos os povos que falam língua portuguesa têm as mesmas regras, a identidade deles - inclusive a nossa, brasileiros - , fica abalada? Alterada? Ou some de vez?
Não, não some. Um povo é feito de cultura e a cultura é feita de mais que só a língua. Contudo, uma marca da identidade de todos os povos que falam o português acaba de sumir. Ou, por acaso, achais que não, caríssimos leitores? Não deixem de expressar a vossa opinião pessoal num comentário nessa postagem, certo?
Beijos e abraços a todos!

10 comentários:

Anônimo disse...

Excelente seu artigo sobre as mudanças em nossa língua. Concordo com suas observações em gênero n~umero e grau. Acrescento apenas que, para a tal palavera "shopping", poderíamos usar perfeitamente "centro de compras". Por exemplo: Centro de compras conjunto nacional, Centro de compras pátio Brasil, Centro de compras Terraço etc.. Esta expressão identifica de forma clara o local sem ter que recorrer a estrangeirismos. Paabéns!

Anônimo disse...

olha eu concordo contigo axo isso uma bestera afinal soh o brasil um pais da africa e um da china e nao sei + onde fala portugues nesse planeta
se tem o ingles pq diabos eu ia usa justo portugues fala serio nao precisava fazer isso !!

Anônimo disse...

Não entendi lhufas do comentário acima. =P

Luiza Callafange disse...

Ah, eu achei um super puxa-saco do Brasil com os países estrangeiros. Não devíamos mudar o nosso idioma de maneira nenhuma, faz parte da nossa cacacterística brasileira. Confesso que nunca usei o trema, mas é quase utópico eu aceitar a idéia de vêem e vêm não terão mais seus respectivos acentos...Fomos educados assim, mas infelizmente, teremos de nos adaptar u_u
Quanto às palavras estrangeiras, eu gosto delas ó_o mas preferia que falássemos palavras nossas mesmo!

Anônimo disse...

Dézinho querido!
Eu não sou fã de críticas a coisa nenhuma, mas esse artigo sobre o acordo ortográfico ficou LINDO - é, lindo, sim! - demais! Concordo contigo em tudo. Parabéns pelo texto, Dézinho~!
Beijinho da Pinha!
*=

Rafaela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafaela disse...

Cara, quanto à reforma ortográfica no geral: achoumamerda e falo logo.
Acentos diferenciais são essenciais, e essa história de que paroxítona não precisa? Pô, agora a gente vai precisar desvendar como deve se falar tal palavra e não só ler e logo entender.
Quanto às novas letras, eu já concordo... Estamos vivendo num mundo cada vez mais globalizado, acho normal misturar os idiomas sem parecer um crime.
Eu uso o inglês no meu dia-a-dia, gosto muito de literatura estrangeira, convivo com alguns estrangeiros e tenho meus melhores amigos formados na língua, como eu.
E não é proposital, às vezes simplesmente misturamos os idiomas e como sabemos que somos compreendidos, nem nos corrigimos.
É como se o nosso vocabulário expandisse, na verdade, acho o máximo!
É complicado, mas acho quase impossível conter essa tendência.
Fora isso, como dizia o Nando Reis "não vou me adaptar!".
Não, pelo menos até ser obrigada. ;P

Lua disse...

Discutir esse assunto é meio que discutir a globalização, sabe. Ambos tem (ou têm?) pontos positivos e negativos. Mas, eu acredito que precisamos ser flexíveis e não ufanistas demais..
Muitos nomes indígenas, por exemplo, tem som de W, ué.
E pra falar a verdade, eu nunca usei trema.

Adorei seu texto!!**

disse...

Rs, eu também gostei do texto. Dé eu sou meio quadrada, eu também não gostei das reformas. Mas veio para um bem, temos que admitir. É pra aproximar os países que falam português e que fique cada vez mais próximo de ser uma única linguagem. Apesar disso, acho uma besteira pois a língua está em constante mudança. Porém, menos de 1% das nossas palavras mudarão ...
:P
beijo!

Aileen Daw disse...

Eu concordo totalmente sobre as mudanças ortográficas. Não gosto de terem tirado tremas e acentos!! Mass... quanto às palavras em inglês, sou um tanto suspeita, pq eu vivo falando-as (meu amigo até fica zuando q eu esqueci como fala em português, hehe). Dizem por aí q não existe palavra equivalente a "hostess" em português, o q vc acha? Eu até acho q deve haver uma palavra equivalente pra tudo... mas shopping virar "centro de compras" é bizarro! hehe... e certas coisas a gente já acostumou né?
Mas isso não me impede de valorizar a cultura e a língua brasileira. Eu só gosto muito também do inglês! =)